O título é uma cor

É certo que no campo da arte muitos são os pitacos, às vezes, ferozes de artistas que querem monopolizar o que é arte ou quais coisas podem ser feitas ou o sentidohorário ou anti-horário que devem ser vistas, inclusive qual o melhor ângulo para serem expostas. Esse estranho pião que roda nas mais diversas circunferências, parece estar sempre fadado a ser disputado a tapas.

Fotos: Maggi Hambling e Roe Ethridge

​Essa coluna é um lugar de liberdade para pensar, sem as amarras do circuito, dos entendidos, dos escolhidos etc. etc. Refletir num mundo que ninguém quer ou se corre sem cessar para ir à lugar algum, é malvisto. Mobilizar qualquer aspecto da tão mofada fruta parece ser arranjar inimigos para sempre. Me reservo o direito de poder ser livre, pelo menos aqui que posso escrever o que quero, inclusive não escrevendo o português castiço.

​Tudo aqui pode ruir, pode acontecer, sem que minha moral seja posta na berlinda. Abrindo um parêntesis, tudo isso são formas de dominação. Falar mal dos outros para que eles saibam é uma estratégia de dominação. ​Essa lavação de roupa suja não é endereçada a ninguém, nem interessa na verdade, são palavras no papel virtual, muito mais aderentes ao prazer daqueles que adoram arte, seja ela qual for, mas se veem impedidos de falar, de errar e de suspender qualquer preconceito em prol do mero prazer de estar ali naquela exposição que você não sair nunca.

​Assim, o título também é uma cor, uma sonoridade que você alcança vibrando junto, uma nova camada do trabalho ou da exposição que dá muita dor de cabeça acertar porque mostra um outro lugar, uma atmosfera, uma poética, uma nova nuvem que vai subir nesse céu nublado e carregado de expectativas e definições já previamente estabelecidas.

ALINE REIS | 20 junho 2023