Nem só de experiência vive a arte

Antes mesmo de visitar a exposição de Leandro Erlich e estar debaixo da água já podemos dizer que nem só de experiência vive a arte contemporânea. Sabemos que tal armadilha no mundo em que vivemos é sedutora e lá se vão vários selfies… Nem só de intenção do artista vive a arte também.

piscina de Leandro Erlich no CCBB RJ

​O processo de trabalho costuma ser ainda um lugar de inserção entre o fazer e o estabelecer como um acontecimento: é o que chamamos de “trabalho de arte”. A associação com a manufatura ou um pensamento poético tem uma longa tradição na história da estética.

​Uma amiga artista muito querida entrelaça tais questões na analogia do ateliê que precisa ser “arrumado” para achar uma “ordem” que propicie o processo do fazer no que tange ao acontecer da obra. Muito tempo se leva deslocando instrumentos e objetos de um lado para obra como forma de fazer o lugar da criação aparecer no horizonte. Morandi que o diga!

​As ordens que estabelecemos no mundo sensível também podem ser deslocadas no mundo das ideias. Prestar atenção aos reagrupamentos incide sobre o processo de trabalho e sobre o próprio trabalho como resultado final.Quando tive um ateliê entendi. O mesmo acontecia quando escrevia num determinado lugar da casa e não em outro, numa folha de papel e não no computador. É significativo o lugar que criamos.

Debaixo da piscina ainda não sei o que será, afinal com a pandemia o ingresso ficou para além do dia do post desse blog. Mesmo que ciente que a experiência da arte é imprescindível, o circuito vive de qualquer expectativa de migalha que apareça nos espaços expositivos. Assim também eu vivo desses desejos, embora me faça sempre perguntas sobre a arte porque pensar arte é fazer arte.

ALINE REIS | 25 janeiro 2022