Fio em aberto”

Entre L’elisir d’amore e Insano Alvaro ou entre as palavras, contextos, interpretações, atualizar as possibilidades enquanto possibilidades ainda parece manter aberto o sentido e a direção para alcançar as várias inflexões que a arte contemporânea vai constituindo nesse nosso tempo.

​A chave interpretativa não precisa estar dentro de seu campo propriamente. Vemos a antropologia e a sociologia dando as cartas semânticas, ampliando imagens como nos painéis warburguianos e apsicanálise ainda manter o enlace visual.

​Então, colocar em voga os trabalhos de arte para serem lidos ainda é um comportamento comum sem que nunca se coloque em jogo a fonte de suas interpretações, se são viáveis, se enviesam, se trazem contribuições significativas.

​O espaço aqui de reflexão não postula críticas negativantes. É comum que eu faça perguntas em encontros de arte como forma de tensionar o pensamento e a devolução vem ser acompanhada de uma certa ironia, um desvio semântico ou permeada pelo próprio fim como critério de autoridade.Deixo aqui algumas de minhas últimas perguntas…

​Apesar da crítica ao pensamento moderno e ao conceito de subjetividade, o termo ainda é usado, no sentido que tem um lastro metafísico que ainda se mantém. Vocês acham que é possível suplantá-lo pelo conceito de subjetivação ou ainda estariam ambos guardando as mesmas vestes?

Venho notando nos últimos anos que em vez de usar o termo obra de arte, falamos hoje “trabalho de arte” e mais ainda, “imagem”. Você acha que estamos saindo de uma era de representação e percepção (fenomenológica) para um outro referencial teórico, embora mantendo o paradigma do corpo como um último lastro metafísico?

Pegando a filosofia heideggeriana para qual os modos de temporalização no mundo da técnica guardam a negação da temporalidade e da historicidade, você acha que a experiência contemporânea está ainda muito atrelada à nadidade estrutural? Não tenho como ser, nada nos garante, e os algoritmos ainda nos mantém dentro dessa perspectiva?

ALINE REIS | 5 outubro 2021

“(…) Certas conversações duram tanto tempo, que não sabemos mais se ainda fazem parte da guerra ou já da paz. É verdade que a filosofia é inseparável de uma cólera contra a época, mas também de uma serenidade que ela nos assegura. Contudo, a Filosofia não é uma potência. As religiões, os Estados, o capitalismo, a ciência, o direito, a opinião, a televisão são potências, mas não a filosofia. A filosofia pode ter grandes batalhas interiores (idealismo – realismo, etc.), mas são batalhas risíveis. Não sendo uma potência, a filosofia não pode empreender uma batalha contra as potências; em compensação, trava contra elas uma guerra sem batalha, uma guerra de guerrilha. Não pode falar com elas, nada tem a lhes dizer, nada a comunicar, e apenas mantém conversações. Como as potências não se contentam em ser exteriores, mas também passa por cada um de nós, é cada um de nós que, graças à filosofia, encontra-se incessantemente em conversações e em guerrilha consigo mesmo.”