
“Aprender a nadar”
“Aprender a nadar, aprender uma língua estrangeira, significa compor os pontos singulares de seu próprio corpo ou de sua própria língua com os de uma outra figura, de um outro elemento que nos desmembra, que nos faz penetrar num mundo de problemas até então desconhecidos, inauditos. E a que estaríamos destinados senão a problemas que exigem até mesmo a transformação de nosso corpo e de nossa língua?” (Gilles Deleuze)
Aprender a manipular os signos da arte contemporânea parece ser também habitar outros mundos. Vi recentemente uma live de um artista que descrevia o seu trabalho de arte como se fosse um pedreiro ou um arquiteto. Não tinha a menor ideia de falar do lugar de um artista.
O que me espantou foi ele não ter a menor noção em relação à imagem que o trabalho dele evoca. Isso quer dizer que desconhece as filiações às quais seu trabalho se alia? Frank Stella, Tatlin…?
As várias camadas da imagem da arte contemporânea a saber fundam e fecundam a remissão à história da arte, ao que não é dito (“fantasmagoria”) ou mesmo ao que perceptivelmente evoca como imagem-símbolo ou indício de alguma coisa. Nada disso, ele sequer dava pistas de mencionar.
Contradisse Anselm Kiffer para quem fazer arte contemporânea é difícil prá caramba. Isso porque envolve um aprendizado que te tira do lugar e te joga num outro. Te lança num mundo de discussões tão diferentes do que cotidianamente transitamos na linguagem comum dos naturalismos.
Talvez a pergunta seja: como se constitui um artista contemporâneo? Da atualidade dos fatos? Das diversas “cozinhas” da arte? Das diversas perguntas que não necessitam ser respondidas? Não que eu esteja buscando fundamentos (por que as coisas são deste e não de outro modo? ou por que existe algo ao invés de nada?) porque até mesmo a ideia de fundamento já por si só lança a arte num lugar pré-determinado.
Aqui o espanto é livre!
ALINE REIS | 29 junho 2021

