PEDRO VEIGA desenvolve atividade artística em assemblage, programação criativa generativa*, audiovisuais digitais, e partilha regularmente resultados da sua investigação em conferências e publicações científicas especializadas sobre o papel social da arte e cultura digitais e as influências das economias da atenção e experiência no ecossistema da média-arte digital.
* ARTE GENERATIVA: refere-se à arte que no todo ou em parte foi criada com o uso de um sistema autônomo. Um sistema autônomo neste contexto é geralmente aquele que não é humano e pode determinar independentemente características de uma obra de arte que, de outra forma, exigiria decisões tomadas diretamente pelo artista.
HELLO ( trecho do vídeo) – https://pedroveiga.com/hello/

ENTREVISTA:

JK- JANICE KUNRATH  entrevista  
PAV- Pedro Alves da Veiga artista

JK – Na sua opinião, qual a importância e impacto que a arte tem na vida das pessoas?

PAV- A arte tem o impacto que as pessoas estiverem preparadas para ter. Pode ser vista apenas como uma fonte de embelezamento e prazer estético, ou como uma forma de provocação e questionamento, levando-nos a querer saber mais sobre determinado tema. Numa altura em que tanto se fala da importância da literacia (dos média, digital, etc.) a literacia estética, artística e cultural também deveria ser uma preocupação. Quanto maior a literacia, maior o impacto.

WrongWrong

JK – “…onde toda a arte pode ser realmente relevan,te, interventiva, proposital e não se diluir nos milhões de conteúdo “divertido, criativo, caprichoso e inspirador” ou enfadonho que é constantemente e massivamente carregado nas redes sociais diariamente.” Obra The WrongWrong (Mencionado no site do artista)

JK – Na sua opinião, como a arte pode ser uma narrativa nova, alheia ao sistema, uma panaceia, conforme mencionado na frase: “a arte ser realmente relevante, interventiva, proposital?”

PAV- Endereçando temáticas relevantes e estimulando o público, como por exemplo em Plastic Reflectic (https://www.youtube.com/watch?v=_Gs8gWRMS-o), Tracing You (https://bengrosser.com/projects/tracing-you/), Conversnitch (https://brianhouse.net/works/conversnitch/) ou Transborder Immigrant Tool (https://anthology.rhizome.org/transborder-immigrant-tool), apenas para referir algumas.

JK – Dentro do seu percurso artístico, qual foi a obra que mais teve significado? Por quê?

PAV- A série Principium (https://pedroveiga.com/principium/), pois obrigou-me a olhar para os meus próprios preconceitos e formulações, para a minha relação com o interior do meu corpo e para o seu funcionamento, levando-me depois a descobrir um mundo rico de informações adicionais e periféricas, que aflorei neste artigo:

https://www.researchgate.net/publication/343678178_Arcografia_-_A_Criatividade_Investigada_na_Investigacao_Criativa

JK – Como a arte generativa entrou na sua vida? Comente sobre suas vivências e experiências que essa estética e as suas obras representam no seu desenvolvimento pessoal/profissional?

PAV- A arte generativa entrou na minha vida quando me inscrevi no doutoramento em Média-Arte Digital, em 2014, e foi uma espécie de “amor á primeira vista”, pois era a feliz reunião de algo que existia como formação prévia profissional (sou Engenheiro Informático) e algo que despontava como paixão (a prática artística, até então “limitada” à música, pintura em acrílico e assemblage).

JK – Em uma palavra ou frase, descreva quais as influências que os locais/países que visitou tiveram na sua criação artística?

PAV- Todos os locais por onde passamos nos marcam, mesmo que essa marca possa não ser óbvia ou direta. Um dos países que mais me impressionaram foi o Egipto, pelo choque cultural e ao mesmo tempo pelos excelentes relacionamentos de amizade que fiz, e pelo deslumbramento com a capacidade criativa e artística, de síntese, de composição, de escala, de perfeição manifestada em obras com mais de 5000 anos. Foi uma lição de humildade.

JK – Na sua opinião, quais as ferramentas e os meios que a arte dispõe para promover o diálogo sobre diversidade cultural e contribuir para a transformação social?

PAV- Todas! Qualquer ferramenta pode ser utilizada ao serviço de um objetivo, das mais simples às mais complexas, desde um simples meme até uma instalação sofisticada com sensores e atuadores. Daí o provérbio “a pena é mais forte que a espada”. Uma lata de tinta em spray pode ter tanto ou mais impacto do que 2000 leds e sensores digitais. A única exigência é a vontade e a perseverança do artista – e a sua capacidade de implementação.

JK – O fenômeno da globalização, no que se refere aos aspetos culturais, como os símbolos, linguagens e representações gráficas dos povos, de certa maneira, procura unificar essas identidades, que são características tão peculiares de cada região do planeta. Qual a sua opinião?

PAV- O global não pode nunca abolir o local. Mesmo que exista apropriação dos símbolos, é uma apropriação superficial, que nunca vai conhecer em profundidade o que está por detrás dos mesmos. Veja-se o que acaba de acontecer com a camisola poveira, apropriada pela estilista americana. O capitalismo artístico, designação proposta por Gilles Lipovetsky e Jean Serroy, tudo estetiza e tudo visa rentabilizar, ignorando as camadas semânticas mais profundas e referenciais locais. Voltamos à questão da literacia: se educarmos gerações que se contentam com a superficialidade, então o global engole tudo.

JK – Considera que a questão espiritual dos seres humanos está interligada a intuição, a criatividade? Qual a sua opinião?

PAV- Existem planos metafísicos ainda desconhecidos (ou parcialmente conhecidos) da ciência, pelo que não formulo nenhuma opinião, dado não ter sustentação para a mesma. Sou uma pessoa intuitiva, mas gosto de suportar as minhas intuições em observação e confirmação. Segundo rezam as estatísticas informais, a minha intuição é razoavelmente boa 🙂 A minha criatividade só funciona quando é espicaçada, ou seja, se estiver sentado à espera que apareça uma inspiração, isso dificilmente acontecerá. Se começar a bombardear os sentidos com imagens, textos, sons e ideias, de repente as sinapses começam a produzir ligações e as coisas surgem. Mas isto não é uma verdade/processo universal, cada criativo terá os seus.

JK – Como as abordagens da New Media Art podem contribuir, para a humanização e o respeito relativamente as diversidades culturais dos povos, mantendo viva as suas memórias?

PAV- A New Media Art lida com o digital, e o digital permite manipular todos os tipos de média, tornando-se ele próprio um meta-média. Assim, é particularmente adequado para tudo endereçar, e socorrer-se de toda a parafernália que o digital disponibiliza, desde as bases de dados, à própria Internet, passando por software de reconstrução holográfica de monumentos desaparecidos, de visualização e interação em realidade virtual e aumentada com artefactos raros, etc.. O importante é garantir que a mediação digital não se torna o centro das atenções, ou seja, o conteúdo e a comunicação é que importam.

Biografia:
Pedro Alves da Veiga é um artista transdisciplinar, licenciado em Engenharia Informática, doutorado em Média-Arte Digital com louvor e distinção, versando a sua tese sobre Experiência e Atenção: Construção e Constrição de Ecossistemas de Média-Arte Digital.
É investigador do CIAC – Centro de Investigação em Artes e Comunicação, tendo estado ligado durante mais de duas décadas à atividade empresarial, e contando com vários prémios de webdesign e multimédia.
Atualmente desenvolve atividade artística em assemblage, programação criativa generativa, audiovisuais digitais, e partilha regularmente resultados da sua investigação em conferências e publicações científicas especializadas sobre o papel social da arte e cultura digitais e as influências das economias da atenção e experiência no ecossistema da média-arte digital.
As suas obras já foram expostas individual e coletivamente em Portugal, Espanha, Holanda, Rússia, China, Tailândia e Estados Unidos da América.
Participou em várias exposições colectivas de arte, destacando o espaço Montepio, em 2001, e em 2002 a Galeria Municipal Gymnásio, e o MInistério das Finanças, em Lisboa, em Dezembro de 2014 a primeira presença numa feira de arte internacional: SCOPE Art Miami integrado na colectiva Art Takes Miami, com peças da série Principium, em 2015 e 2018 na Bienal Internacional de Arte de Cerveira, no Festival functio() 2019, em Maiorca, na exposição การเจรจา CONVERSA, exibida simultaneamente em Portugal e Tailândia em Outubro de 2019 e na Bienal de Arte Online “The Wrong”, em 2019/20.
Expôs individualmente na Quinta da Regaleira, em Sintra, em 2012, com mais de 6.000 visitantes ao longo de três meses, na StoryTailors Store, em Lisboa, em 2013, na Galeria Municipal de Monsaraz – Igreja de Santiago, integrado no programa Monsaraz Museu Aberto (2014), Fábrica Braço de Prata (Lisboa, 2015), e na Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos (Amadora, 2016).
Apresentou ainda obras de média-arte digital nas conferências Expressive CAe 2016 e Ciência 2016, Bienal de Cerveira (Vila Nova de Cerveira, 2015), INVITRO (Lisboa, 2015), Festival Paratissima (Lisboa, 2016), Heritales (Évora, 2016), Artech 2017 (Macau, 2017), Galeria Municipal TREM (Faro, 2018) e Bienal Internacional de Arte de Cerveira (2015, 2018).

UAb
Universidade Aberta - Departamento de Ciências e Tecnologia
Professor Auxiliar Convidado

DMAD
Doutoramento em Média-Arte Digital / Ph.D. in Digital Media Art
Vice-coordenador / Subdirector

CIAC
Centro de Investigação em Artes e Comunicação / Research Centre in Arts and Communication
Conselho Científico / Scientific CouncilPerguntas para o artista transdisciplinar Pedro Alves da Veiga.
Pedro Alves da Veiga, 1963, Lisboa, Portugal 
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