Mobilizar sentidos em múltiplas direções…”

A arte contemporânea mobiliza sentidos em múltiplas direções. Uma dessas setas aponta para a importância do título num trabalho de arte.

Escolher um título para um trabalho de arte contemporânea é quase tão difícil quanto realizar a obra. O título tem a especificidade de ser um elemento colado a obra ou mesmo uma quase-citação, aproximando ou distanciando o que nela arde como um fogo que queima. Ele pode assumir um lugar de dúvida ou uma forma de complementação ou mesmo dissuadir leituras fáceis… Um mistério.

Título Tombo
Obra Rodrigo Braga
Instalação site específico com 15 estipes de 5 palmeiras imperiais do Rio de Janeiro e colunas neoclássicas da Casa França Brasil.
2015

​O caminho que devemos trilhar ao escolher um título percorre espaços de transição, entre o que pode ser dito e o que pode não-ser dito, mobilizando paradoxos dos mais diversos: desestetizando, rompendo, desmaterializando, transcendendo, mediando, legitimando, desartizando e estabelecendo interlocuções com o outro.

​O outro ao se deparar com o título já está irradiavelmente preso aos enunciados que nele comportam? O caráter enunciativo não é somente um dos aspectos a serem postos em jogo pela recepção crítica como podemos acolher uma multiplicidade de conversas com as quais a arte mobiliza as vísceras do mundo.

De todas as tramas que podemos tecer é de se destacar que o título não é necessariamente narrativo, pode ser disruptivo, interferindo no espaço aberto de interlocução que o artista pressiona, podendo ser mexido e articulado em muitas outras posições, inclusive pondo-se de perfil, incapaz de ser e de aparecer.

Vê-se que há um elemento próprio ao título que não se reduz a totalidade de seu signo. Ao estar no espaço expositivo, o título assume o seu caráter material, materializando-se tanto quanto a pintura, a escultura ou qualquer outra matéria constituinte da cozinha da arte contemporânea e é nesse exato “lugar” que ele se torna visual no mesmo estatuto historiográfico do trabalho de arte.

ALINE REIS | 4 maio 2021