Léxico imaginante

​Tenho um trabalho de arte chamado Regras Duchampianas: numa capa do livro de tese aparece o título “Riscar os verbos que Não fazem parte da Arte Contemporânea”. Proponho ao espectador riscar com uma caneta os verbos que não fazem parte da Arte Contemporânea. A exposição “Qual é o seu link?” de 2016, no Calouste Gulbenkian, costurava as conexões do artista com ícones da história da arte. Em meu texto dizia: “Quais seriam tais verbos, então? Diante da possibilidade da ação, vacilantes, muitos quererão manter alguns. Eu diria que diagonalizar seria um verbo que eu manteria na Arte Contemporânea e em qualquer superfície, mesmo que depois recortasse, definisse, sem, contudo, fazer existir, sem, contudo, permanecer.

​A exposição Superfícies na galeria do Espaço Municipal Cultural Sergio Porto faz referência aos verbos que riscam, costuram e apontam na geometria do espaço àsdiversas associações que se dão entre os artistas do ateliê coletivo cidade baixa. A expografia acentua tanto a matematização possível quanto o caráter histórico do cubo branco, e longe de ser uma ingênua alternativa, faz surgir potentes reconfigurações que ligam os pontos de inflexão das várias visualidades aos léxicos de cada um dos artistas.

Quando vi a parede riscada constituir o próprio espaço como anteparo para existir como uma pena que encosta e voa, compreendi que a impermanência do toque tanto evidencia a ação quanto é anteparo para a sua existência. Por ter exposto tanto como artista quanto curadora no Espaço, me acostumei a leitura do lugar, o que me faz pressionar as linhas brancas imaginárias na experiência do locus.

Se o espectador abstrair os contornos dos trabalhos e observar como a matéria geometrizante de cada um se relaciona, verão que todos estão consoantes com o quechamamos em arte: Poética. O léxico imaginante conta com novas aproximações futuras, em outros rearranjos!

ALINE REIS | 24 outubro 2023