
Fruição exuberante
Quando vejo uma peça de teatro e uma galeria de arte juntas num mesmo momento, posso afirmar que o título da coluna de hoje parece ser o mais indicado para descrever a minha fruição e síntese. Riscar a parede com carvão, em camadas nos mil brancos, com os bordados, incisões no espaço expositivo com desenho, etéreos brancos como são ajuntados numa superfície. Alegria estética de uma artista que caminha enxarcada por todos esses lugares.
O diálogo com o cubo branco histórico, bem distinto da peça no lamaçal, dos caranguejos engaiolados que teimam em ser plásticos, plásticas imagens que estão over, a mais no cenário da peça, porque não entram no assunto. A costura da linguagem é de uma intimidade ímpar, a visualidade dá o contraponto, mesmo que não dê tempo,daquele que adaptou o livro para a peça, de chegar até esse outro lado das nossas vivências atuais, daí o ator caranguejo perguntar se a plateia quer que ele fique na posição desconfortável sendo “simplesmente” visto.

A guerra segue iconolástica, mesmo que tão próxima, no acontecer de hoje! Outro rejunte é o da pobreza dos “soldados” da Guerra do Paraguai, a reconstituição de que as práticas políticas foram se dando, quase como fofocas, diluídas e anedóticas em espanhol, enquanto a lama vai se sedimentando de restos e vestígios das mortes de vários indivíduos engolidos do nosso Brasil. Se a teoria comporta termos que deixam a conhecer objetos científicos, cataloga-se, a vivência da guerra enlouquece, destorce e corporifica.
Momentos díspares entre teatro e artes visuais, eternizam o gesto, enquanto chafurdam as boas intenções da humanidade no outro. A música presente no palco, pesa tudo que observamos, num determinado momento acho que não vou aguentar, penso em quantas pessoas depressivas sairiam porque foram tocadas no ânimo da coisa.Arte que é arte é assim, a transcendência se faz ali mesmo.
ALINE REIS | 17 outubro 2023
