
Escondidos caminhos
Nem sempre a positividade diz, nem sempre está na nossa frente o que fazer, mesmo que tenhamos competência técnica para desenvolver o nosso trabalho curatorial. “Mexer” com a poética do artista não é somente compreender ou se familiarizar aceitando que é isso aí e que há para além disso, escondidos caminhos que devem ser percorridos.
Há artistas que não desenvolveram totalmente o processo e não acessam esses novos lugares. Estão ali na transcendência da arte, contudo, sem avançar para um além que os manterá no fio da fruição e da exuberância estética. Não percebem que um segundo passo seria potente ponte em direção às outras paragens que os possibilite sair de determinadas posições já estagnadas, e os fazê-los andar.

Para a maioria que vive de artivismo, nada mais falso, mas quem vive no lago da metafísica aparentemente sem vida, essa longa tradição de escolhas, constitui cada um deles, daí alguns facilitadores são necessários: peço que constituam um léxico, fazendoseu próprio dicionário para que seja mais legível a si mesmo os processos, porque temos a impressão de que “a imaginação” ou “a inspiração” são foscas, pouco acessadas e nada dizem sobre o porquê do fazer do artista.

Nem precisam me mostrar, nem mesmo a ninguém. Não é uma questão de saber aonde chegarão, objetivos e coach, é somente para tocar em regiões pouco descobertas de suas paixões visuais e elocubrações. Algo que sabem que existe, que procuram sem cessar, não encontrando o sentido ou o gosto que os impulsiona. Sentados numa determinada pedra a olhar o horizonte suspiram: que situação é essa? que visualidades manipulam? de que origem começam?
Tornar visível as palavras pode ser uma forma para chegar aos escondidos caminhos! Não ao inconsciente que governa! Não ao inconsciente coletivo! Detesto tais conceitos como boa sartriana.
ALINE REIS | 10 outubro 2003
