
Curadores são territoriais
Sabe-se disso na matéria de português, mas na vida às vezes a ficha não cai. O artista precisa negociar com o seu tempo. A liberdade sub specie aeternitatis como dizia Sartre é impossível! O paradigma dominante do circuito de arte existe, construir nele ou fora dele precisa ser uma camada a ser pensada em seu trabalho, porque não haverá reconhecimento dos seus pares quanto à competência técnica e poética, sem essa tomada de posição.

Luta-se com o lugar em que se está. Anacronicamente inclusive, vejo nos textos dos curadores, a tomada de posição por um lugar já dado: texto curatorial eurocentrado numa visualidade Decolonial. Colocar no jogo crítico tais aspectos são boas reflexões para fazer girar em torno do processo, as questões que alimentam o trabalho de arte essencialmente temporais na arte contemporânea.
Parafraseando Schopenhauer e Nietzsche é preciso adivinhar o artista visual para compreender o trabalho, aí o intuito hoje é avaliar o quanto de perfume desse tempo a obra tem, se está deslocada e o anacronismo é parte do trabalho, mas nunca pode o artista não manipular tais signos. Intencionalmente, manipula formato, ideias, relações para fazer existir o peão da arte.
A curadoria não pode ser ingênua em relação às pretensões políticas e ideológicas também, há curadores que são praticamente um partido político. As trincheiras são anacrônicas? Aí eu diria que não. Se você lembra do deslocamento de ser considerado contemporâneo por Agamben, essa discussão parecerá normativa, esse é um dos pontos de convergência e divergência que incidem para discutir.
Como curadores são territoriais, a própria visada temporal precisa estar no trabalho escolhido, não é à toa o exemplo dado por Hal Foster. Aliás o mundo continua homem branco que faz a gente pensar e determina o que deve ser.
ALINE REIS | 26 setembro 2023
