

Hidratação
Imaginem um mundo que previamente informa e adestra, preparando o corpo para segurar o livro, apresentando ao leitor uma literatura com personagens e narrador, que lança mão de conectivos como forma de habitar a maneira correta de ler, comprincípio, meio e fim, encadeando uma ou mais narrativas, mantendo hidratada a seiva da conformidade. Agora pense o processo contrário, imagens que aparecem e não ilustram, a personagem cabeleireira que não é nem autorretrato, nem principal, nem dica de nada?
Hidratação de Valeria Campos é esse desconcertante jogo de montagem na qual palavra e imagem não estão lado a lado na pós-produção, nem são dois mesmos que se complementariam na mesa de edição, apesar de estarem uma diante da outra quando o livro é fechado em seu silêncio.
Entrelaçar contaminações em linhas de leituras e escrituras, alinhando palheta teórica, acontecimentos e faíscas da linguagem, faz com que Valeria dote a superfícieque se aproxima em ziquezaqueantes abandonos, muito próximos ao processo da artista na apreensão do espaço nas artes visuais.
As palavras promovem um pequeno átimo de vida e ao mesmo tempo uma desorientação que inclui flashes de entendimento, mas que desconcertam nossa forma de estar no mundo. Embaralhando as cartas da literatura, Valeria faz com que possamos colar as mãos nas palavras-coisas, manuseando-as não somente como texto, nem tateando-as em sentidos sedimentados ou pelas vielas das muitas interpretações possíveis, mas no encontro que se faz ali, num outro futuro, quem sabe…acolá.

O texto ora meu, ora entrelaçado com a conversa do coquetel de lançamento procura ser tão delicado quanto a edição feita pela editora Numa (@numaeditora). Para adentrar nesse universo é necessário estar “confuso”, destituído de certezas diretivas, em pelo voo, vagando de página a página sempre na expectativa de algo se constitua. Não deixem de fazer a experiência!
ALINE REIS | 22 agosto 2023
