
Aproximam e Distanciam
Aproximar as artistas requer distanciar os trabalhos? De quantas maneiras podemos recriar atmosferas que possam vir a “conversar” as várias visualidades? Esses investimentos passam desapercebido do grande público. Ignoram que os aspectos que tanto aproximam quanto distanciam tangenciam a forma como o trabalho de arte contemporânea se posiciona em relação ao mundo.
Todos nós temos nossos “pais teóricos e\ou visuais”, artistas e curadores, ver através deles, copiá-los de uma certa forma e principalmente, tencionar ultrapassá-los. É como se fosse aquele dia da terapia que você não tem nada para falar e se torna uma de suas melhores sessões… Por quê? Por que o nada preencheu tudo e fez surgir as palavras, as associações, a liberdade de ser e inventar?
Espacialmente aproximar e distanciar coloca um corpo no espaço expositivo. A brincadeira de criança como descrita por Foster no Em busca do Real já foi tema de uma de nossas colunas. Imagem recorrente. Movimentos que perpetuamos até que algo nos tira do prumo e traçamos outras linhas em outros semicírculos.


Nem só de geometria vivemos, nem só de apanhados e achados na linguagem, nem só de plásticos jogados na superfície do globo, embora todos esses instantes estejam contidos na exposição Superfícies se Aproximam, com visitação até 20 de maio, no Ateliê Sala Experiências Contemporâneas, no quinto andar da Fábrica Bhering.
Os desdobramentos da geometria atravessaram séculos, Platão, os construtivistas russos, ou mesmo em vestígios de acabamentos que são encontrados no senso comum contidos nas falas dos espectadores participantes. Ver já é participar. Retocar os signos com tinta virtual na pele do word já é participar, assim toda perspectiva que é lançada entrelaça um novo sentido rumo a algo que ainda não nasceu. Os pontos da costura são ora visíveis, ora invisíveis no trato com as coisas.

ALINE REIS | 9 maio 2023

