Redundância

Essa atitude tão necessária à comunicação, sofre um abalo quando um texto de arte é escrito. Recentemente escrevi um texto curatorial e precisava de uma outra palavra para paisagem. Ao procurar por equivalentes me deparei com uma explicação (“território que se alcança com o olhar”) e sinônimos que aparentemente poderiam ser usados como vista, panorama, horizonte, perspectiva, visão, cenário, cena, espetáculo, painel, quadro, campo, visual.

Tomás Saraceno

Como já havia escrito em uma outra oportunidade, todos os conceitos levariam para outros lugares distintos. Fiquei então pensando como tal lógica de associação envolve os algoritmos. Se existe uma interseção na relação entre eles, também existem espaços não contidos em um e outro. Aí encontramos o que é exprimível.

Ann Hamilton

Manipular a escolha de “uma cadeia significante produz textos que trazem consigo a memória da intertextualidade que os alimenta. Textos que geram, ou podem gerar, variadas leituras e interpretações; no máximo, infinitas. Afirma-se, então (pensemos, com inflexões diferentes, na linha que une o último Barthes, o último Derrida, Kristeva), que a significação passa só através dos textos, que os textos são o lugar onde o sentido se produz e produz (prática significante) e que, neste tecido textual, se pode deixar aflorar de novo os signos do dicionário, enquanto equivalências codificadas, desde que haja o enrijamento e a morte do ‘sentido’”. ¹

O mundo imagético que vivemos, não só nos mantém conectados e atentos a rapidez das imagens, das palavras e dos símbolos como nos impregna de camadas e camadas de opiniões e interpretações sobre elas, portanto embaralha as noções produzindo diferença e desvio.

ALINE REIS | 4 abril 2023

¹ ECO, HUMBERTO. Semiótica e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Ática, 1991. p.31.