
Jogo
O processo de criação da curadoria e do blog obedece aos mesmos critérios. O jogo começa quando os movimentos vão te dando. Apontar para uma direção, mesmo que a escolha seja difícil, abre um caminho que sugere outros desvios e incursões. Fora o prazer de estar entretido, há a angústia que ainda não é possível ter tudo pronto logo assim de cara.
Certezas são quase sempre nulas quando o mundo sempre te aponta derrotas e falta de legitimidade. Somado a isso, o entrelaçamento das várias teorias se dão cada dia de uma forma diferente. Acompanhar a academia tem seus prós e contras porque ora ela se comporta avant-garde ora fica-se lá atrás em velhos discursos já sedimentados.

Recentemente li um livro sobre arte contemporânea todo na direção de Mário Pedrosa, Hélio Oiticica, muito bom, mas fico sempre me perguntando se podemos continuar nesse prelo quando subimos um edifício teórico outro. Ali o jogo está ganho porque há legitimidade da autora perante a academia. Na borda das coisas, o approach é outro.
Há uma máxima sempre escutada no Parque Lage de que o artista deve ficar na sua e trabalhar! Que muitos foram os que brilharam depois e passaram por todo tipo de retaliação e anonimato. Significa dizer que o jogo é duro. Mano a mano. É um terreno de disputa territorial e política. Confronto nem sempre agradável. Quem respira arte 24h por dia sente isso.

Jogar esse jogo requer repertório, um inquebrantável desejo de continuar e dar um novo sentido aos entroncamentos que fazem surgir novas propostas e desmembramentos. O que passou tem seu apelo, embora a folha em branco saiba do que já foi, ela fica na sua frente para ser completada. Propor novos horizontes? São mesmos horizontes a serem propostos? Primeira sedimentação: as palavras. Segunda em diante… o mundo inteiro contra você.
ALINE REIS | 3 dezembro 2023

