
Experimentar, interpretar e compreender
Experimentar, interpretar e compreender passam necessariamente nas regras da sala social por ouvir quem tem o poder. Nos espaços independentes cada dia fica mais claro que a potência das dissidências recorta o universo curatorial e as falas são diretamente políticas endereçadas à determinados grupos com “recados” bem explicitados.
Ao largo disso passa um país que não interpreta coisa alguma e vive no regime de massa, imerso naquilo que o filósofo italiano Maurizio Feraris chama de “a parafernália da era digital que nos mergulha num estado permanente de servidão voluntária”.

Compreender “os dispositivos ideológicos e técnicos, capazes de controlar tudo o que diz respeito à experiência humana” também requer muitos anos de estudo. É um capital simbólico que somado as diferenças significativas entre experimentar, interpretar e compreender conseguem relacionar o jogo social das narrativas.
Costuma-se rir dos filósofos e de suas afirmações quando não colocamos diante das perspectivas já previamente dadas da tradição, pela roda do capital e de outros refugos que vão se avolumando. Pensando em Paul Ricoeur e nas discussões sobre o sentido, se está na experiência ou na linguagem, me lembrei de um trecho das leituras com as quais se dá na “região” da filosofia, não só porque avizinhar é um possível habitar como a linguagem de certa forma dá um contorno aos feixes de poder naquilo que é dito.

“Não que tudo seja linguagem, como é dito às vezes, (…) nas concepções em que a linguagem perdeu sua referência ao mundo da vida, àquele da ação e comunicação entre as pessoas. Mas, se nem tudo é linguagem, tudo, na experiência, não adquire sentido senão sob a condição de ser levado à linguagem. (RICOEUR, Paul. Leituras 2. A região dos filósofos. Tradução de Marcelo Perine e Nicolás Nyimi Campanário. São Paulo: Edições Loyola, 1996b, p. 209).
ALINE REIS | 20 setembro 2022

