“Eu pintava. Teve uma hora que deixei a arte de lado, mas não vi que não dava. Eu tinha uma filha quando me separei. Para nos sustentar, fazia vitrines de joias da H. Stern de São Paulo. Tinha que montar tudo direitinho, harmonizar as peças e criar. Logo comecei a fazer as vitrines para toda a rede. Trabalhei durante oito anos com isso. Mudei de emprego depois, criava estandes para exposições. Foi aí que comecei a ter contato com coisas grandes. Eu amei.”

Marianne Peretti

Eu simplesmente bati na porta dele [Niemeyer] e disse que gostaria de trabalhar com ele. Depois de três meses, voltei ao Rio e o encontrei de novo. Ele deve ter gostado muito de mim, porque já me deu um monte de trabalho, todos de Brasília” Marianne Peretti

“Marianne Peretti é uma artista de excepcional talento. Os vitrais maravilhosos que criou para a Catedral de Brasília são comparáveis, pelo seu valor e esforço físico, às monumentais obras da Renascença. Sua preocupação invariável é inventar coisas novas, influir com seu trabalho no campo das artes plásticas.” Oscar Niemeyer

SOBRE A ARTISTA 

Marie Anne Antoinette Hélène Peretti,
conhecida como Marianne Peretti, foi uma artista plástica franco-brasileira.
Viveu em Pernambuco, estado natal de seu pai.
Considerada a mais importante vitralista do Brasil, foi a única mulher a integrar a equipe de artistas da construção de Brasília.
Nascimento: 13 de dezembro de 1927, Paris, França
Falecimento: 25 de abril de 2022, Real Hospital Português, Recife, Pernambuco
Morte: 25 de abril de 2022 (94 anos); Recife, Pernambuco, Brasil
Nome completo: Marie Anne Antoinette Hélène Peretti
Catedral Metropolitana de Brasília

TEXTO DE Geórgia Alves 30/04/2022

“Marie Anne Antoinette Hélène Peretti: se você não é capaz de reconhecer o nome, certamente não foi capaz de reconhecer a figura bela, superiormente cativante de Marianne Peretti, para além de ser das mais bem-sucedidas artistas do gênero. É inestimável seu legado. E este texto não vem relacionar sua obra tri ou supra dimensional, de modo a remeter o inexato e inalcançável a qualquer forma de taxinomia.

Aviso de antemão – nenhuma palavra dará conta soando simplesmente palavra. Ainda mais sendo minha, então, apelo à anterioridade dos fatos e remeto aos termos de alguém que leitor e leitora bem conhece o nome e atribuiu aos “vitrais maravilhosos” tais adjetivos para quem criou para a Catedral de Brasília, a chapelaria do Senado e outros lugares na capital brasileira obras de “um excepcional talento”. As aspas remontam ao que firmou Oscar Niemeyer sobre Peretti.

Oscar convidou Marianne e ela foi a única mulher a compor o grupo de artistas responsáveis na construção do conjunto de edificações que simbolizam a capital brasileira diante dos olhos do mundo. A jovem havia estudado escolas francesas e exposto individualmente nas “Galeriés de France”. Descoberta muito antes pela arquiteta pernambucana, Janete Costa, que por Niemeyer. A vocação de Marianne para criação e perturbação de ordem vigente dada superou em muito o que pode abarcar as arcadas de academias. A criação desta artista está para além da busca do essencial, de estar em sintonia com o transcendente na Arte. 

Marianne tem no currículo episódios de expulsões no Lycée Moliére e Lycée Victor Duruy por fugir das aulas “para pintar”. E nem sempre o país reconheceu sua excepcionalidade, digo isso dado o triste episódio envolvendo o trabalho intitulado Alumbramento, no ignóbil ano de 1990 – do qual não se pode dizer que completamente nos curamos – quando o painel da artista executado em perfis metálicos e vidros em face fosca para o prédio o salão branco do Senado fora acintosamente deixado por dez anos em um porão. 

Refinada composição feita de inovadora técnica tridimensional que acolhe duzentas peças produzidas no ano de 1978 em Stained glass com dez metros de extensão e quase três metros de altura. Suas formas curvas remetem a pássaros e a sugestão de outras formas aladas. O caso foi denunciado pela Imprensa e levou uma empresa de Recife a propor a recuperação diante da curadoria cultural a fins de restauração e reinstalação. 

À época, diante da exposição A Arte Monumental de Marianne Peretti promovida no Museu Nacional da República, exposição de trinta peças da artista, em Brasília, diante desse acordo a circunstância terminou por permitir a reinauguração e reintegração ao local de origem em outro cenário político, no ano de 2016. Seria inevitavelmente reduzir a experiência se arriscasse listar inúmeras e inestimáveis contribuições de Peretti para a Arte Brasileira. 

De modo alguém é minha a intenção encontrar palavra que traduza a grandeza de seu trabalho por definições ou títulos das obras. Talvez a própria narrativa da obra e da vida de Marianne Peretti traduza parte do que significa tê-la, na maior parte de sua existência, morando em Olinda e ainda no Brasil desde a década de 50. Marie Anne estudou pintura e desenho da École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs, sendo a mais jovem da turma a partir dos 15 anos. Estudou em Montparnasse, na Académie de La Grande Chaumiére, tendo aprendido técnicas com Édouard Goerg e Françoise Desnoyer. E expondo pela primeira vez em mostra individual na Gallerie Mirador. 

Filha da modelo de origem francesa Antoinette Louise Clotilde Ruffier e do historiador pernambucano João de Medeiros Peretti no dia 13 de dezembro de 1927. Faleceu no dia 25 de abril de 2022 no Hospital Português do Recife. Envio daqui meus sinceros sentimentos à filha Isabella Peretti, com que esteve no Congresso Nacional revisitando suas obras. As cidades do Rio de Janeiro, Turim, na Itália e Le Havre – na Maison de La Culture – na França tem obras de Marie Anne Peretti. O corpo é sepultado neste sábado, 30 de abril, no Cemitério do Campo da Esperança em Brasília. Artista que não pode ser senão mais-que-lembrada e por muito tempo. Seu legado nos alumbrará ad infinitum, transportando a outro mundo, não apenas da precisão, mas da delicadeza, não somente da matéria, da alma. Alumbrando em devaneios.” Geórgia Alves

Pernambuco
Congresso
Senado
Memorial JK
Livro sobre a artista : Este livro perfaz a trajetória da artista plástica francesa Marianne Peretti, conhecida por, entre outras, obras que se constroem dialogando com o desenho arquitetônico de edifícios icônicos, como é o caso dos vitrais que recobrem a Catedral de Brasília e do Memorial JK, no Distrito Federal. Além da reprodução de imagens dos diversos murais, vitrais, esculturas, croquis, depoimentos e fotografias antológicas da artista, a obra ainda apresenta ensaios de Jacob Klintowitz, Joaquim Falcão, Véronique David, Sonia Marques e Yves Lo-Pinto Serra; além de uma réplica de carta-depoimento na qual o amigo e parceiro de trabalho Oscar Niemeyer fala da admiração e amizade por Marianne..