Toque delicados

​Participo de um grupo de estudo em arte e educação e recentemente o livro da Roberta Barros (“Elogio do toque ou como falar de arte feminista à brasileira”) foi escolhido como leitura. O livro é fruto de um trabalho acadêmico e é anterior ao nosso tempo histórico, portanto as discussões não são feitas noviés do paradigma dominante Decolonial, o que por si só já altera significativamente o tema em questão. 

Uma das interrogações da autora diz respeito ao sintoma de atraso do Brasil em manter uma pesquisa sobre o assunto. O enquadramento dela vai em direção à virada nova iorquina dada pela Louise Bourgeois e ao póloconceitual americano e ao feminismo francês.

Louise Bourgeois

​Écriture féminine, différance, imaginaire. A “identidade feminina” como “sensibilidade contemplativa” e “linguagem imaginativa”, aliado ao pensamento de Simone de Beauvoir nos faria questionar uma série de questões: será que teríamos que enquadrar a artista Élisabeth Vigée Le Brun (1755-1842) no neoclassicismo, usando as terminologias masculinas para identificar as mulheres? Classificá-las numa histografia homem em períodos, estilos e temas? É preciso estar sempre no paradigma masculino da história da arte para fazer parte dele?

Além disso, é necessário estar diante do postulado de uma arte feminista? Por que não houve grandes artistas mulheres? Assumir que reescrever a história da arte é impossível? Acabaríamos numa dupla exclusão: o da história vivida (o fato de ser mulher) e a história construída (masculina, com temática de genialidade) e assumiríamos os silêncios e os mecanismos que levaram as ausências.

Mary Kelly (Documento pós-parto 1973-79)

Outra cilada é o corpo da mulher ser um importante vetor da experiência da arte. A autora começa na emblemática exposição de Mary Kelly (Documento pós-parto 1973-79) como ponto de partida das discussões feministas na arte contemporânea. “Se para as mulheres, “não há experiência do corpo fora da representação”, nós ficamos providas de um centro de onde possamos nos aventurar adiante para mudar essa apresentação incorreta.” (Lucy Lippard, no livro O Pós-modernism de J.Guinsburg e Ana Mae Barbosa).

ALINE REIS | 19 julho 2022