Obras de Igreja
Há lugares onde os trabalhos de arte não são “vistos”, portanto não são fruídos ou julgados como obras de arte. Eles estão ali como coadjuvantes num cenário muito mais próximo da fé do que de uma apreciação estética com a qual estamos acostumados a interpretar.

Os tons escuros das pinturas costumam representar cenas cristãs, a austeridade teológica e a sobriedade das emoções. Estamos diante dos últimos dois ou três séculos de uma arquitetura neoclássica, falo de uma parte significativa das Igrejas Católicas do Rio de Janeiro, como delimitação. Não tensiono pensar o barroco mineiro de Aleijadinho, nem a Capela Sistina ou as obras de Giotto na Cappella degli Scrovegni, porque nelas o valor implícito de seus artistas contribui para uma visita especializada.
Quem apreciar as obras e os afrescos, como eles costumam ser fixados nas paredes tem pela frente um entendimento espacial muito próprio. Habitar, envolver em geometrias e dar sentido aos objetos de arte, faz surgir umaapreensão espacial que indica como os corpos experimentarão aquele sítio.
É claro que identificar Igreja como museu, como algo velho que possui coisas velhas e que nada acrescentam é uma forma preconceituosa de viver aquele espaço. Há na experimentação do espaço uma camada interpretativa histórica que incide sobre como o seu corpo irá se comportar. Isso ocorre. Os preconceitos inviabilizam os deslumbramentos.

Como a arte não só produz vertigem, mas problematiza o lugar da sociedade, a paisagem pode migrar da pintura para o mundo da vida, como fez Joseph Beuys ao plantar 7.000 carvalhos na cidade de Kassel. Ali em vez do acolhimento e da vivificação espiritual, os corpos políticos eram convidados a viver a emergência da questão ecológica.
Se os sentidos e as direções mudam, o que nos permite manter a atenção nos detalhes que encontramos? Isso me ocorre quando penso em outros espaços expositivos.
ALINE REIS | 7 junho 2022

