Produzir estes e outros trabalhos, de forma quase obsessiva, em que um puxa o outro, teria, segundo Pinky, uma estreita relação com os mais de dois anos de reclusão que vivemos e com o sentimento de asfixia provocado pelo momento político. Talvez como forma de processar e lidar com as interdições e expandir assim, simbolicamente, os limites estreitos da existência cotidiana. “Foi um processo não catártico, porém libertador”.
Galeria Lanterna Mágica. Travessa Dona Paula, 134, Higienópolis. Ter. a sex., 11h/19h. S áb. 11h/18h. Grátis. Até 11/7. @projetovenus.sp.

De volta à cena: Pinky Wainer inaugura primeira exposição em 20 anos
Primeira mostra da artista desde os anos 90 será aberta neste sábado na Galeria Lanterna Mágica, em Higienópolis.
Matéria com base em Tomás Novaes: https://vejasp.abril.com.br/coluna/arte-ao-redor/pinky-wainer-exposicao/
Faz vinte anos desde a última exposição da artista plástica Pinky Wainer. Felizmente, ela está de volta. A mostra de retorno se chama Mulheres Dopadas e a Pintora Esquecida, na Galeria Lanterna Mágica, em Higienópolis, espaço recém-inaugurado por Ricardo Sardenberg.


Com obras criadas durante a pandemia, a exibição tem como tema a figura feminina — o mesmo foco usado pela artista no fim dos anos 90. “É meu trabalho mais íntimo, mais particular”, define ela, que reúne duas séries de dezesseis aquarelas com camadas de colagens, texturas e combinações de diferentes materiais.



Pinky iniciou a carreira nos anos 80 e, a partir de 2002, seguiu no design gráfico e no ensino artístico. Teve, entre 2005 e 2015, a Loja do Bispo, que funcionava nos Jardins, e uma editora de mesmo nome.
APÓS 20 ANOS, PINKY WAINER EXPÕE SUAS OBRAS EM SÃO PAULO
REDAÇÃO BAZAAR 25/03/2022
Na falta de um termo preciso para definir essas obras, Pinky segue chamando-as de aquarelas, apesar das muitas camadas de experimentação que contêm. Rasgos, colagens, combinação de materiais e texturas, experimentação de pigmentos alternativos como o café (usado também por Rodin), apropriação de trechos e pedaços de livros antigos se interconectam em combinações estranhas, que muitas vezes parecem saídas de um perverso conto de fadas, no qual mulheres misteriosas interagem, em forte tensão quase erótica, com animais um tanto ameaçadores, como corvos, lobos ou cisnes. Algumas vezes a mulher desaparece, em outras ela retorna solitária, protegida ou censurada por burcas, máscaras ou estranhos capuzes, mas olhos marcantes, que parecem conter a tensão expressiva da obra.
Já em suas últimas exposições, como as que realizou em 1997 na Galeria São Paulo, ou nos primeiros anos do século 21 na Galeria Millan em São Paulo e na GB Galeria, no Rio, a figura da mulher sempre foi o tema. No entanto, apesar de ser uma feminista aguerrida – “o máximo que posso nesse mundo louco” – e reconhecer que é óbvia a conexão que tem com as mulheres que pinta, para ela a imagem feminina é, antes de tudo, uma base para a pintura, uma figura a partir da qual nascem e se estruturam as composições. Seu interesse não está no desenho, mas sim nas múltiplas relações entre os elementos, as cores e os materiais presentes na obra. “Pintura abstrata e música clássica, só pra os gênios”, ironiza.
Autodidata, Pinky inicia sua carreira já explorando as potencialidades da aquarela, material que ganhou do pai aos 24 anos. A primeira exposição foi ainda nos anos 1980, na Galeria Rastro, a convite de Aparício Basílio, que se encantou com seu trabalho. “Peguei aquela oportunidade com os dentes”, conta. Multifacetada, se dividiu entre a experimentação artística, as artes aplicadas (realizando diversos projetos gráficos como ilustrações e capas de livro) e o ensino, que nos últimos anos se tornaram sua principal atividade. Gosta de enfatizar que não dá aula de técnica, mas sim de processo criativo. Afinal, como Pinky diz, aprendeu o que sabe na prática diária, na observação e muito em conversas com os balconistas das lojas de materiais artísticos. A artista afirma que não há erro em aquarela e cada mancha ou desvio pode dar margem a uma nova trama de relações. “Gosto muito dos defeitos, das coisas que você não controla”, afirma. A ausência, por quase duas décadas, da cena expositiva trouxe, segundo ela, algumas vantagens. “Não ser muito procurada te dá liberdade, você pode ousar, dizer não”, conta.

