A exposição está no Museu da República – Catete, até dia 31 de março com entrada Franca.

“A pandemia trouxe uma maior preocupação com os mais vulneráveis se fazendo urgente repensar as políticas em prol desses indivíduos”… “Como elas sabem que meu trabalho está ligado ao empoderamento da mulher, acho que encontraram aqui uma oportunidade de serem ouvidas sem medo de julgamentos ou represálias. Como uma válvula de escape”

Panmela afirma

Motivada pela repercussão de um suposto caso de abuso que veio a público envolvendo uma jovem e um jogador de futebol, a artista postou nas redes sociais uma experiência que vivenciou e convidou outras mulheres a dividirem suas histórias. O envolvimento foi tão grande que ela transformou esses relatos em um projeto artístico.

Uma semana antes do início do isolamento social contra a pandemia da COVID-19, em 07 de março de 2020, o Salão Nobre do Palácio do Catete, no Museu da República, servia de palco para um baile, onde o público dançava em pares pisoteando flores em alusão a violência doméstica. A performance marcaria a abertura da exposição “Retratos Relatos”, da artista carioca Panmela Castro, que, agora, está novamente aberta à visitação.

https://fb.watch/a-_NLWKmQg/

A exposição apresenta uma série de retratos inspirados em relatos de mulheres enviados à artista por email. Tudo começou em 2019, conforme já citado acima, motivada pela repercussão de um suposto caso de abuso que veio a público envolvendo uma jovem e um jogador de futebol, Panmela postou nas redes sociais uma experiência que havia vivenciado anos atrás e convidou outras mulheres a dividirem suas histórias. A resposta foi tão grande que Panmela, premiada internacionalmente pelo seu ativismo social frente a ONG Rede Nami, resolveu transformar os relatos em um projeto artístico. Desde então, a artista vem recebendo via email histórias de mulheres de todas as partes do país, acompanhadas por selfies.

Crédito: Panmela Castro/ Divulgação/ Lage Assessoria de Imprensa Relatos de abusos sofridos por mulheres são transformados em arte por Panmela Castro

Cada relato foi transformado num portrait, inspirado não só pela imagem da autora como na temática da narrativa.

A exposição traz 18 obras, sendo sete inéditas, criadas em 2021, ao longo do isolamento. Ao lado de cada pintura estão as histórias, divulgadas anonimamente.

São relatos, por exemplo, de mulheres contando como se sentiram em suas casas nesse período, acumulando funções do trabalho remoto e a responsabilidade pelos cuidados da família. Das obras antigas para as novas não só os temas mudaram como também o visual das pinturas. Com a Pandemia, Panmela, durante o período sozinha no ateliê, se concentrou em desenvolver seu trabalho de arte, criando novos rumos para a sua produção.

A maioria dos relatos fala de abusos contra a mulher nas suas mais variadas formas. Um deles, inédito no acervo, é o da Dra. Cristina, caso emblemático da década de 80, que acabou abrindo portas para que outras mulheres denunciassem seus companheiros. Cristina teve 85% do corpo queimado pelo namorado e o agressor foi condenado a 11 anos de prisão em uma época em que não existia a Lei Maria da Penha. Hoje, ela está à frente de uma organização especializada em tratar cicatrizes emocionais.

A mostra também traz o relato da própria Panmela, vítima de abuso sexual na adolescência.

Os relatos enviados durante a quarentena apontam para um velho e conhecido problema da nossa sociedade: o machismo estrutural, que acaba regendo todas as relações dentro de casa, não só entre marido e mulher como também entre pais e filhos. São desabafos de mães sobrecarregadas com os afazeres de casa e deveres profissionais; mães e filhas descobrindo na convivência diária suas diferenças; ou simplesmente mulheres que viram suas vidas virarem do avesso por conta da pandemia. Um deles conta o drama de uma jovem que descobriu ser soropositiva no meio da gestação durante a quarentena. A partir daí, ao invés de apoio, ela passa a sofrer todas as formas de violência possível do marido e de sua família, culminado com a perda da casa e a guarda do bebê.

Histórias como essas reforçam também uma das principais bandeiras levantadas por Panmela: a equidade racial e de gênero.

Crédito: Panmela Castro/ Divulgação/ Lage Assessoria de Imprensa Relatos de abusos sofridos por mulheres são transformados em arte por Panmela Castro

Artisticamente, o público terá a oportunidade de ver uma faceta pouco explorada por Panmela até então em suas exposições: os portraits. Ainda que conhecida por seus grandes murais mundo afora (muitos deles retratos), a forma de pintar ganha uma nova estética.

Um pouco sobre a artista – Panmela Castro, Carioca, nasceu em 1981, vive e trabalha entre Rio de Janeiro, RJ e São Paulo, SP em 2019 foi indicada ao Prêmio PIPA, originalmente pichadora do subúrbio do Rio, Panmela Castro interessou-se pelo diálogo que seu corpo feminino marginalizado estabelecia com a urbe, dedicando-se a construir obras a partir de experiências pessoais, em busca de uma afetividade recíproca com o outro de experiência similar. Sua obra já foi exposta em museus ao redor do mundo, como o Stedelijk Museum em Amsterdã, e faz parte de importantes coleções. Sobrevivente de violência doméstica, Panmela desenvolve há quase 20 anos projetos de arte e educação para conscientizar sobre os direitos das mulheres.

Panmela Castro foi criada por uma família conservadora de classe média baixa do subúrbio do Rio. Sua mãe, Dona Elizabeth, enfrentou uma série de dificuldades financeiras e vivenciou alguns episódios de violência doméstica com seu primeiro marido, até que decidiu fugir e se casou novamente com outro homem, que lhe proporcionou uma vida mais digna e criou Panmela como filha. Sem educação formal, seu novo pai fez com que conseguisse se dedicar aos estudos por um tempo, mas ao completar 15 anos, ele declarou falência. Foi com essa idade que a artista, ainda muito nova, precisou trabalhar para ajudar nas despesas de casa.

Para pagar suas contas e estudos, além de dar aulas, começou a desenhar pessoas nas ruas e vendê-las por 1 Real. Também foi nessa época que, com o codinome Anarkia Boladona, tornou-se a primeira garota de sua geração a escalar prédios para pichar. Panmela foi uma das primeiras grafiteiras a pintar trens no Rio e interviu ilegalmente por toda a cidade.

Em 2005 começa a se dedicar à pintura mural depois de uma experiência com violência doméstica: foi espancada e mantida em cárcere privado por seu até então companheiro, e essa experiência influenciou diretamente o caráter político de suas obras.

Pelo seu trabalho ativista nas artes, Panmela Castro recebeu muitas nomeações de direitos humanos como o Vital Voices Leadership Awards (D.C, 2010), o DVF Awards (NY, 2012), Young Global Leader do Fórum Econômico Mundial (2013) e figurou em listas importantes como da revista americana Newsweek como uma das “150 mulheres corajosas que estão bombando no mundo” (2012), além de outras. Em 2007 a CNN a nomeou Rainha do Graffiti. Panmela é pauta de veículos como da TV Americana PBS e no Fantástico da Rede Globo. É personagem em livros didáticos, de arte, liderança e direitos humanos; artigos acadêmicos, e nas principais mídias ao redor do mundo.

Para realizar uma mudança efetiva na sociedade, Panmela fundou a Rede NAMI, instituição de artes e direitos humanos onde, desde 2010, já atendeu mais de 9.000 mulheres. Hoje, a ONG é dedicada às mulheres negras, maiores vítimas do feminicídio no país.

  • Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira, Sábado, Domingo das 10:00hàs 17:00h
    11h às 18h (sábado, domingo e feriados).
  • Rua do Catete, 153. Catete
  • museudarepublica.museus.gov.br

Locais de Pesquisa para elaboração desse texto – https://acontecenacidade.com.br/ https://www.artsoul.com.br , https://www.premiopipa.com