O leilão do quadro Girl with Baloon, de Banksy

No dia 5 de outubro de 2018, o quadro Girl With Balloon, do artista britânico Banksy, foi arrematado por mais de um milhão de libras – quase 5 milhões de reais – na Sotheby’s de Londres. Batido o martelo, a obra começou a escorregar por um triturador de papel escondido na moldura. Metade virou tirinhas. “Vai-se, vai-se, foi-se”, escreveu o artista na legenda da imagem postada no Instagram. Foi esta a maior sensação no mundo das artes no ano que passou. E o abonado comprador que a adquiriu não mudou de ideia: a obra em si dava lugar a uma obra histórica.

Crítica à mercantilização da arte ou não, a audácia de Banksy ilustra o papel do artista dos tempos atuais, em que os efeitos colaterais de uma obra, levados à ribalta, têm mais impacto do que ela mesma. O engano ao vivo e a incredulidade diante da efemeridade calculada, aqui, ganham valor estético. E reverberam tempos de impossibilidade de definir verdades, tanto nas narrativas políticas – sustentadas pelas redes sociais, pelas fake news e pela corrosão da credibilidade da imprensa – como na arte, cujas certezas sobre sua natureza começou a ruir há muito tempo. Sem contar sua vocação de colocar em xeque a noção do falso e do verdadeiro, per se.


Tesouros do Naufrágio do Inacreditável,de Damien Hirst

Há um caso ainda mais elucidativo desse fenômeno. Em abril de 2017, o também britânico Damien Hirst inaugurou em Veneza uma mostra monumental, Treasures From the Wreck of the Unbelievable (Tesouros do Naufrágio do Inacreditável). Distribuída por dois dos maiores museus de cidade italiana, a exposição reunia 189 peças de materiais diversos – bronze, mármore, malaquita, cristal de rocha, prata, ouro – que contavam uma história rocambolesca.

Fantasia e fato se misturavam na jornada de Cif Amotan II (anagrama para I am fiction), escravo que teria vivido entre os séculos 1 e 2 d.C. em Antioquia, atual Turquia. Grande colecionador, precisou criar um espaço para guardar e contemplar sua coleção de artefatos de várias culturas – egípcia, grega e romana, entre outras. Na história, as peças, embarcadas em um grande navio, foram por água abaixo em um naufrágio no Oceano Índico. Em 2008, uma equipe de arqueólogos marinhos teria descoberto o navio e sua carga de tesouros na costa da África Oriental.