
Deslizamento
Deixar um espaço vazio para poder deixar constituir numa nova abertura. Uma nova paisagem? Podemos tentar recombinar as coisas do que já foi, mas um novo formato vai sendo feito com outros insights. O vibrador apareceu quase como um ventilador até que alguém foi capaz de relacioná-lo ao que estava devidamente em relação.
Lidar com o porvir futurando-se a cada momento no mundo técnico já por si só é um caminho do próprio desdobramento da tradição.
A saber o vazio para os Antigos não era “uma experiência sensível, muito menos a experimentação, mas uma concepção global do mundo: limitado e ilimitado, finito e infinito, contínuo e descontínuo, em outros termos, uma visão do universo, o que é e o que não pode ser, levadas em consideração as opções tomadas quanto à existência, ao pensamento e à natureza dos corpos”.¹ Fazer essa observação serve para mostrar como a tradição nos condiciona a um olhar muito específico.
Deslizamento de quê? Alguns poderiam perguntar. Um muito comum da tradição que nos lega o século XX é a do sentido. Não somente quando atribuímos sentido às coisas ou quando dá direção aos nossos comportamentos cotidianos. Mesmo os vestígios que aparecem, materiais ou incorporais, são como uma ponta de direção aos nossos corpos destituídos.

Como o deserto que vai constituindo novos lugares ao sopro do vento, abrir-se a um novo horizonte indefinível nesse momento parece ser um único caminho a ser. Qual é o nosso lugar? Partilhamos caminhos em comum onde coabitam ideias e sonhos e uma vontade de expressão gigante. Cientes que a arte pode ser um lugar para além da sobrecarga dos tempos técnicos, ainda nos constitui como um sentido de direção para a existência.
¹ CAUQUELIN, Anne. Frequentar os incorporais: contribuição uma teoria da arte contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
ALINE REIS | 11 janeiro 2022

