Momento ideia, uma memória de um plano interno

​Interessante o vídeo do Paulo Mendes da Rocha sobre as ideias que desenvolveu para o projeto arquitetônico do edifício do Mube, em São Paulo. O título é uma das falas do arquiteto. Plasmar o momento ideia paralisaria a coisa numa memória de um plano interno, o que seria um verdadeiro absurdo na lida contemporânea. Assim vemos que o discurso data e mostra de onde as questões emergem e à qual filosofia remetem…

Os rebatimentos são uma forma de domínio do espaço. É assim na arte, também na arquitetura. O entorno é geográfico. Geográfica é a maneira de pensar a filosofia desde os gregos. Se os modernos nos condicionaram aopensamento como cosa mentale, a música tocada ao longo do século XX foi outra.

​O corpo como suporte da experiência (da arte, principalmente),corporificando-se nas dimensões do espaço e do tempo, especializando e temporalizando, nos mostra uma outra maneira de apreender o mundo. Foi partindo da manusealibidade das coisas que Heidegger compreendeu uma outra abertura: das mãos e da instrumentalidade das coisas à extensão do esquecimento do ser.

Os rebatimentos ainda me fazem pensar no ritmo que as coisas assumem umas como as outras. As cores têm ritmo. Uma cor não pode anular a outra. Uma das maneiras de conceber e habitar o espaço é por meio da imaginação, a outra é no fazer mesmo da ação. Experimentar o vazio. Entre as coisas que manipulamos, enxergamos o vazio entre elas, como nos exercícios bauhasianos de Josef Albers.

“Pensar geograficamente”, dispor os vestígios por sob o espaço, fazersurgir a memória como narrativa, é mais do que mostrar associações mentais. Aqui temos rebatimentos de um corpo que avança no espaço, e como fazemos isso falando acabamos por narrar a poética, o que caracteriza mais uma camada para pensar o trabalho de arte.

ALINE REIS | 14 dezembro 2021