Escorregando para os sentidos
A pista está no espaço. Encontro-me corporalmente com o espaço do museu e lá as relações se dão. Nada supera a experiência do encontro com o espaço expositivo. Se meu corpo é puro anteparo para o trabalho do outro ou se o caminho que percorro por entre os trabalhos risca no chão uma deambulação inconformada tais posições se fazem permitindo que eu escorregue em meus sentidos e saia de uma apreensão mais racional e crítica.
As “poéticas” “abertas” abrem o espaço no lugar do tempo e a narrativa visual desloca para o lado as interpretações “fáceis” e tudo o mais se configura.Como a arte nos alcança? Qual é o corpo do trabalho? Se a artista passa a ser uma narradora, o que ela nos lega como futuro? Isso já aparece no incrível panorama feito por Rosangela Rennó na Pinacoteca de São Paulo.

“Pequena ecologia da imagem” dá nome ao rigor da artista que brinca com os sentidos sedimentados teóricos e visuais num século que se compõe de imediatidade de “um crepitar ininterrupto de representações paralisadas que se encontram tanto nas palavras quanto nas supostas “imagens”¹ e que grita surdamente pelos nossos acondicionamentos no mundo da técnica.

De todas as palavras que eu poderia digitar aqui (imprimindo uma temporalidade impressa), nenhum poderia mostrar o que por si só pode ser visto num limite finito temporal e espacial da exposição.
ALINE REIS | 30 novembro 2021
¹ Jean Luc Nancy.


Que texto pleno. Ler seus textos são um afago a alma. Obrigada