
A visualidade dos pequenos formatos\fragmentos
Reconstituir um caminho e não só abandoná-lo ou refutá-lo totalmente. Por onde podemos começar? A própria tradição já traz um resto de futuro. A “leitura” do trabalho de arte de Jean-Etienne Liotard no século XVIII pode ser lida na visualidade dos pequenos formatos\fragmentos.

Fazendo uma analogia entre a língua e a lógica, entre o que se convencionou chamar algo de algo e a maneira como operamos a linguagem, podemos fazer a mesma analogia dos pequenos formatos e dos fragmentos? Não que a escala do pensamento seja o prelo de nossos pensamentos é porque subsiste como deslocamento.
Quais são as paisagens que perpassam diante de mim e quanto a gramática permite que sejam ditas? Há infusão ôntica e ontológica na língua falada? O quanto a linguagem “joga para dentro” da lógica a expectativa de suprir a crise na qual nos encontramos? Se a temporalidade é o elemento que ainda perdura, o que ainda mantém idêntico nos modos de ser? Apenas o fio temporal no qual guarda a permanência?
Recentemente, a frase de Susan Sontag dita em “Contra a interpretação” apareceu na minha frente: “Em vez de uma hermenêutica da arte, precisamos de uma erótica da arte.” Não é novidade a vontade de dispor os desejos como o fio de condução das curadorias e das apreensões dos artistas.
As máquinas desejantes são âncoras da visada política no discurso da arte: erotizar a gramática, desnormalizar os gêneros, desbancar privilégios econômicos e sociais parece ser a via da destronização dos reis pela via da arte. As denúncias são mobilizadas em imagens e nelas permanecem incrustadas como em pedra mármore. Falar em hermenêutica ou em ontologia parece ser nos dias de hoje a nossa alienação social.
Há quem vincule a experiência niilista às duas grandes guerras mundiais e ao surgimento das metrópoles, mas se nunca paramos de guerrear por que somente depois das duas grandes guerras do século XX aparece uma experiência diferente das que vivenciaram as pessoas anteriormente? Não se pode esquecer que o vínculo entre a história e os modos de ser daqueles que a experimentam são inseparáveis.
A vida histórica do nosso tempo tem importância na construção tanto da visualidade da arte quanto no formato no qual são apresentados os “trabalhos de arte”.

ALINE REIS | 19 outubro 2021

