INDIVIDUAL DO ARTISTA VICTOR ARRUDA no PAÇO IMPERIAL

A exposição “TEMPORAL” exibição individual de pinturas e desenhos de Victor Arruda em cartaz no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Sua abertura aconteceu esta semana no dia 08 de julho, sua curadoria é assinada por Adolfo Montejo Navas, autor de livro já editado sobre o artista. A exposição acontece de 08 de julho a 26 de setembro 2021.

Victor Arruda, Professor, desenhista, gravador e pintor.

Nascido em Cuiabá, no Mato Grosso, em março de 1947, Victor Arruda se mudou para o Rio aos 14 anos. A família materna de Victor Arruda é russa, de Harbin, na Mandchúria, no período em que a Rússia ocupou a cidade, de 1896 e 1924. “Eles eram muito brancos de olhos claros, e por isso eu não me considerava branco. A família de meu pai já é uma mistura de índios, negros, judeus e europeus. Por isso me considero um coquetel molotov”, brinca.

Estudou museologia na UniRio, com especialização em arte contemporânea. “Eu era um artista contemporâneo antes mesmo de este termo ser usado, porque não me identificava com nada do que se fazia na época. Tudo era moderno e eu não era moderno”. O artista nos seus 50 anos de trajetória participou de mais de 80 exposições individuais e coletivas em diversos estados no Brasil e no Equador, Suíça e Estados Unidos. O seu local de maior produção artística é na cidade do Rio de Janeiro com cerca de cem trabalhos produzidos desde o início dos anos 1970.

Victor Arruda é conhecido por sua pintura bruta, sem concessões, com uma feroz crítica contra a hipocrisia e o abuso de poder, e a presença, desde sempre, de questões de gênero, com cenas explícitas de sexo. Para o artista, sua arte é conceitual, em que a pornografia e a agressividade estão a serviço da discussão de
temas internos e sociais. Suas obras estão em coleções importantes como a de Gilberto Chateaubriand, Luiz Schymura, João Sattamini, Hélio Portocarrero e a do crítico italiano Achille Bonito Oliva, que conheceu seu trabalho por intermédio do artista Antônio Dias.

Como membro organizador do grupo Tato e Contato, é responsável pela instalação do primeiro ateliê de Arte Livre destinado a crianças, na Funabem, Rio de Janeiro, em 1977. Em 1982, torna-se organizador do setor infantil na mostra A Margem da Vida e atua como professor de artes plásticas no Instituto Penal Lemos de Brito. A convite de Oscar Niemeyer (1907 – 2012), pinta o painel do foyer do teatro do Memorial da América Latina, São Paulo, em 1989.

Texto Curatorial de Adolfo Montejo Navas

TEMPORAL é o título simbólico da nova mostra de Victor Arruda, que alude já de saída a duas circunstâncias convergentes: ao tempo climático, erigido com força, vento, perigo; e, por outro lado, de forma menos denotativa, a uma acepção do próprio tempo, a seu calendário. Portanto, ora a história, ora a biografia, ambas as potências, com suas dimensões, se coligam uma vez mais nessa poética insurgente, pois sempre estiveram em cruzamento, superposição, em tensão, por saber ler criticamente o presente cotidiano, a vida rente ao chão, e o que gravitava sob formas de poder, domínio, exploração.

Em sua pintura e desenhos (e performances e outras obras), certas perversões da falsa moral foram vislumbradas com décadas de adianto, convertendo-se em ilustrações icônicas de uma época, mas prometendo um lado futurista, uma pós-vida inaudita: uma atualidade incurável. Da mesma forma, algumas coisas que acontecem agora aparecem em suas telas mais recentes – outro litígio com sua corrosão talvez mais sublimada. TEMPORAL não deixa de ser esse diapasão duplo, aberto à comunicação de um Victor Arruda, o jovem, com o velho, utilizando uma terminologia muito cultural e pictórica (Plínio, Bruegel, Hölbein…), quase inventando um terceiro tempo (alquimia de cronos e kairós), aquele que só existe como outra margem, como ensinou Guimarães Rosa, ou talvez para demostrar que o tempo não existe tanto na arte.

Nesta mostra, existem duas vertentes principais pautadas pelo jogo do tempo (as idades) e das metamorfoses (as novas metapinturas). Dois campos semânticos alimentando esse diálogo entre Victores Arruda que não cedem em sua interconexão de motivos, gestos, configurações, ativando uma conversa tão explícita quanto submersa: um vaivém de ressonâncias entre tempos e obras (com dípticos contíguos ou novas relações desenhadas, metabolizadas), assim como uma dança de momentos diferentes dentro de uma mesma tela produz outra assemblage temporal; e, paralelamente, rivalizando em importância, produz-se uma desconstrução da pintura, aliás, cada vez mais ousada, tanto por fora como por dentro dos limites impostos tradicionalmente, estourados até seus confins: seja então pela subversão visual de seu imaginário (conteúdo interno), seja pela implosão de sua estrutura (fenomenologia externa): dando lugar a verdadeiras rupturas formais e conceituais, algo nada comum. Em suma, nestas telas de telas se vive um estágio crítico da pintura, certo lado abissal no qual se tira o tapete do chão, onde é revelador, por exemplo, o lugar transcendente e experimental que ocupam as bordas nas telas (aliás, quando Victor Arruda não esteve pintando nas margens?)

Nesta pródiga aventura do artista, amplificada pelo valor do fragmento e da repetição, da transmigração visual e conexão conceitual, e pelas questões carregadas que atravessam o tempo, há lugar para muita surpresa imagética e perceptiva. Daí a defesa de novos comportamentos pictóricos, já históricos pela realidade de seu valor agregado, leia-se também desafio. A sua nova pintura não é só nova pela data (também são ótimas as marcas temporais daquelas obras “do artista quando jovem”, aqui resgatadas), mas porque sempre supera as informações visuais contidas nela: ela foi desequilibrada, uma obra superior em relação a seu imaginário. E atenção de novo aos títulos: neste jogo de formas, afiguram-se Díptico das duas contradições, Comentários ou Abismo com abstrações que deviam ter sido pintadas em 1929, tudo um aviso para os navegantes.

TEMPORAL contém, assim, sua própria agitação (da época, da própria pintura, da biografia, da história), representa diversas aproximações especulares a uma poética cada vez mais plural e ousada, livre e antenada, cuja fantasmagoria nunca foi tão viva e inquietante. A pintura “errada” de Victor Arruda nunca foi residual. Sempre foi anômala ao corpus da arte brasileira e daí veio parte de sua força, sua autonomia quase impossível.

Texto produzido através de pesquisas nos sites abaixo: 

www.amigosdopacoimperial.org.br

www.bienaldecuritiba.com.br

www.artrio.com

www.guiadasartescom.br

e Instagram do artista @victorarruda24x