Matéria com base em DaP 23 Jan
http://www.uel.br/cc/dap/?p=3874

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– COMO UM TRABALHO COMEÇA?
Um trabalho pode surgir em situações distintas para mim: uma conversa, uma música (melodia ou letra), um texto, uma imagem, uma pintura, teatro, espetáculo de dança, um novo material ou objeto, etc, podem ser estopins de algum assunto ou resposta estético-visual. Mas antes disso está o processo artístico, o fazer diário, que me coloca em exercício e em contato com minhas questões pessoais (conteúdo interno), e com materiais, processos, experiências e estímulos visuais, o que permite reação entre estes reagentes. O que observo, dentro de meu processo de trabalho artístico, é que só haverá um novo trabalho se eu já estiver mergulhado em alguma pesquisa anterior, que sedimentou toda uma linguagem estética e que, por conta de seu processo evolutivo, pode abrir novas questões e espaços para novas possibilidades. A equação inversa não acontece para mim.

– QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?
Brian Dickerson, Jannis Kounelis, Sakir Gokcebag, Marcelo Mosqueta, Marcius Galan, Richard Serra, Lee McKenna, Marcelo Cidade, Mona Hatoum, Lucas Simões, Odires Mlászho, Marcelo Cidade, Geórgia Kyriakakis, Matias Mesquita, Marlies Hoevers, Ismael Randal Weeks, Virgílio Neto, Laura Goski e Victor Leguy são alguns dos artistas cujos trabalhos me tiram o fôlego. Além de alguns deles me servirem de referencia e inspiração, me apresentam poéticas muito distintas e intrigantes, mesmo quando estas surgem em meio aos mesmos materiais. Isso para mim é arrebatador. Um artista que também gostaria de destacar é David Bowie, por conta de sua pluralidade artística, sua inteligência e sensibilidade na leitura e percepção de seu tempo, sua vocação para o experimentalismo, “aglutinar” outros talentosos artistas e faro para os negócios, por ter influenciado e ainda influenciar gerações, e por mais uma vez ter alargado os limites da arte e dos mercados que dela vivem.

– QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
Além das belezas naturais, me chamam atenção os contrastes conceituais entre atitudes, pensamentos e da materialidade. Me fascina e também me intriga toda a produção humana e como esta dialoga com o meio ambiente.

– O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Neste momento estou estudando os desdobramentos que surgiram a partir das séries Horizontes, Poemas Herméticos e Poemas Sólidos (esta última exposta no Arte Londrina 06), os quais estou experimentando outros formatos e acrescentando outros materiais e linguagens. Nestas séries caminho da fotografia e pintura ao tridimensional, me apropriando de livros, recipientes e peças de cimento e concreto.

– QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?
Para pesquisas utilizo muito os sites de museus e o Mapa das Artes, além de redes sociais como o Pinterest, o Instagram e o Behance, que conseguem abranger praticamente tudo aquilo que é produzido em artes visuais, audiovisual, design, ilustração e comunicação. Outra fonte de pesquisa e de entretenimento do qual me utilizo muito é o YouTube. Nele procuro desde música, filmes, documentários, até entrevistas e processos artísticos diversos.

– QUE EXPERIÊNCIAS COM ARTE FORAM IMPORTANTES PARA VOCÊ?
Acredito que a primeira fagulha a me despertar para o desejo de fazer artes visuais, foi ter tido acesso as pinturas que uma antiga namorada de um primo havia feito. Eu já desenhava e tinha artistas visuais na família, no entanto ter visto trabalhos feitos por aquela jovem moça, com uma idade próxima a minha (eu tinha 13 anos), me fez perceber que eu também seria capaz de faze-lo. Um segundo momento importante para sedimentar esse desejo, foi o primeiro ano de faculdade no curso de desenho industrial na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o qual era voltado totalmente para a experiência artística. Neste momento tive aulas com grandes artistas e professores, tais como Júlio Minervino, Marcio Périgo, Leila Reinert, Mauricio Fiori, Luise Weiss, Eliana Zaroni, Alexandre Jubran e Luis Gê, que me sensibilizaram para algo que estava para além das “entrelinhas do design”. No entanto, o que defino como fundamental para a minha verdadeira imersão, foi o momento em que comecei a participar do grupo de acompanhamento de projetos do Hermes Artes Visuais, ministrado pelos artistas Nino Cais, Marcelo Amorim e Carla Chaim. Na discussão sobre meu próprio processo artístico e troca com os demais artistas e amigos, foi possível amplificar e apurar meu olhar e meus processos de produção, aumentar repertório, entender conceitos da arte contemporânea, assim como moldar meu próprio discurso e poética. Através do grupo, pude participar do projeto Mesmo Lugar, o qual promove exposições individuais dos frequentadores do grupo, como forma de refletir, testar e apresentar suas mais recentes produções, algo também fundamental para mudanças significativas em minha produção.

BIO
Marcelo Barros
São Paulo - Brasil, 1977
Vive e trabalha em São Paulo.
O que se vê são irregularidades em superfícies continuas. O trabalho se dá entre a impressão, o recorte, a textura gráfica, a fricção, o relevo. Na interferência em imagens clássicas da pintura, em fotografias apropriadas, livros antigos e objetos ordinários, quando cobertos e desconstruídos. Traz ao tato o que antes era somente visual e já não importam os rostos e sim a materialidade da pele.
As imagens, assim como os objetos, se tornam irrelevantes. Seu contexto, sua identidade e sua localização não importam. São apenas pessoas, coisas e lugares que se abstraem, que se transformam em pura casca. No entanto, não nos intriga o que está por baixo. O que intriga é a ação, a transformação, o material, o tom, a minuciosidade, os ângulos formados, as bordas definidas.

Bacharel em Desenho Industrial com habilitação em Projeto de Produto, 2006, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e técnico em Design Gráfico, 1995, pela Academia Brasileira de Arte (ABRA). Já participou do curso O Processo Criativo – Pensamento Criativo e Conceitualização, 2013, pelo Instituto Tomie Ohtake, ministrado pelo professor e artista visual Charles Watson, e frequentou, de 2014 a 2020, o grupo de Acompanhamento de Projetos do Hermes Artes Visuais, ministrado pelos artistas visuais Nino Cais, Marcelo Amorim e Carla Chaim.
Principais exposições: 2017, Arte Londrina 6 no DaP - Divisão de Artes Plásticas da Universidade Estadual de Londrina. Paraná, Brasil; 8º Salão dos Artistas Sem Galeria nas galerias Patricia Costa, Potrich, Orlando Lemos, Sancovsky e Zipper. Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, Brasil; 2016, Sobre a Pele na Qualcasa, São Paulo, Brasil; 2015, Contraprova – Vol.02 no Paço das Artes, São Paulo, Brasil; 2003, Porque nos Tornamos Assim no Espaço Fotográfico Porto Seguro, São Paulo, Brasil.

