
“Vínculos vitais entre Hábito________ Habitante”
Um dos hábitos mais arraigados ultimamente é o artevismo que se manifesta em nossa ambiência virtual como prática do dia-a-dia. Tal demanda gera imagens e memes que podem ser captados pela câmera do celular. Essa constatação de um espectador mais antenado à visualidade pode gerar coletas superficiais das imagens (a esmo) quanto pode forjar “uma estética política (que) define-se sempre por uma certa remodelação da partilha do sensível, por uma reconfiguração das formas perceptivas existentes”¹.
A exposição Hábito_________Habitante, no Parque Lage, aponta nesse sentido, nos vários manejos que podem gerar novos agenciamentos subjetivos. O habitante tanto pode “conhecer” as estruturas discursivas engendradas pelos regimes de poder quanto desestabilizar o fluxo da subjetivação que o________impõe: o derrame do ouro das colônias, as imagens que ardem, o discurso oficial de uma ecologia que privilegia uma em detrimento das demais, o trabalho que não parece como feito por pessoas reais e suas necessidades vitais, engolido pelo lucro e pela invisibilidade das classes sociais, entre outros.

Olhar simplesmente para artistas e obras pode não disparar os dispositivos plásticos e relacionais que trazem para cena o ativismo político daqueles que fizeram a exposição acontecer (artistas, curadores, pintores, montadores), assim como não tensionar os limites das narrativas curatoriais, pode deixar intacto categorias e linguagens “gastas” “passadas”.
Ao comer as paredes da exposição em sua performance, Felipe Abdala, cospe todo conteúdo de construção moldado pelos donos do poder.
Toda desorientação é bem-vinda, longe de esgotar o “imaginário” da produção do trabalho artístico como imagem, a pergunta que se faz é: “Quem nos dá a esponja para apagar todo o horizonte”?²
Se estamos em busca de uma reinvenção da “arte” numa reinvenção do “espectador”, tal pode ser a chave para compreensão da forma como habitamos o circuito da arte contemporânea.
ALINE REIS | 8 junho 2021


¹ Rancière, Jacques. Estética e Política. A partilha do sensível. Entrevista e glossário por Gabriel Rockhill; tradução Vanessa Brito. Porto: Dafne, 2010

² Parafraseando Nietzsche em A Gaia Ciência (aforismo 125).
Artevismo é o artista que faz da arte a sua forma de ativismo. O artevismo encontra na arte um convite à militância, seja ela política, ecológica, social ou espiritual, expressando através da literatura, pintura, escultura, teatro, cinema, música, performance os seus pontos de vista e leituras sobre a vida e o mundo

