
“Nada mais do nada na imagem”
O regime de imagem que circula é nada mais do nada. Uma casca dela já é suficiente para entreter meio mundo. Se o fio que tenho que puxar é o do capitalismo (acredito que seja), também me parece simplista ser somente ele o detentor dos seus direitos autorais. Tampouco a tradição, tampouco a historiografia.

Gosto muito de trilhar os caminhos que os teóricos apontam, cada um a sua maneira engata a discussão partindo de um ponto de vista fascinante. Tombam na literatura, quase sempre. Reordenam a ordem dos livros na estante. Vão à natureza. Instigam os artistas às novas direções corporais. Aí floresce todo o tipo de associações: palmeira, arquivo, vulvas.
O pensamento vem conectado com a técnica. Nada parece coincidir com nada, mas não é mera retórica. Se vem de outras artes? Também. Mas elas não são iguais em domínio e uso. As narrativas se constituem numa constelação de fatores. As artes plásticas parecem vir da chave da literatura. Essa forma de pensar remontaria aos iluministas? Voltaire?

Tudo incidi onde se estabelece um começo. Hoje arriscaria o idealismo alemão e o marxismo do século XX que misturados dão uma boa noção do percurso para quem quer estudar curadoria de arte contemporânea. Não que seja esse lugar o mais acertado ou o único, longe disso há alternativas não-europeias para isso.
O deslocamento da sociologia das ausências de Boaventura Santos parece ser um novo colírio aos olhos. Sloterdijk numa outra ponta também. Parece haver um outro mundo a ser posto em jogo e é nesse contexto que as artes plásticas estão presentes no regime de imagem. É o sítio onde se pensa o próprio trabalho de arte: como conteúdo? Como obra? Como produto?
Não assumir para si tal empreendimento é ficar cego aos nossos dias.
ALINE REIS | 25 maio 2021

