“Nada mais do nada na imagem”

O regime de imagem que circula é nada mais do nada. Uma casca dela já é suficiente para entreter meio mundo. Se o fio que tenho que puxar é o do capitalismo (acredito que seja), também me parece simplista ser somente ele o detentor dos seus direitos autorais. Tampouco a tradição, tampouco a historiografia.

Gordon Matta – Clark | oficce baroque 1977 | cibachrome

Gosto muito de trilhar os caminhos que os teóricos apontam, cada um a sua maneira engata a discussão partindo de um ponto de vista fascinante. Tombam na literatura, quase sempre. Reordenam a ordem dos livros na estante. Vão à natureza. Instigam os artistas às novas direções corporais. Aí floresce todo o tipo de associações: palmeira, arquivo, vulvas.

O pensamento vem conectado com a técnica. Nada parece coincidir com nada, mas não é mera retórica. Se vem de outras artes? Também. Mas elas não são iguais em domínio e uso. As narrativas se constituem numa constelação de fatores. As artes plásticas parecem vir da chave da literatura. Essa forma de pensar remontaria aos iluministas? Voltaire?

Katharina Grosse | untitled 2004

Tudo incidi onde se estabelece um começo. Hoje arriscaria o idealismo alemão e o marxismo do século XX que misturados dão uma boa noção do percurso para quem quer estudar curadoria de arte contemporânea. Não que seja esse lugar o mais acertado ou o único, longe disso há alternativas não-europeias para isso.

O deslocamento da sociologia das ausências de Boaventura Santos parece ser um novo colírio aos olhos. Sloterdijk numa outra ponta também. Parece haver um outro mundo a ser posto em jogo e é nesse contexto que as artes plásticas estão presentes no regime de imagem. É o sítio onde se pensa o próprio trabalho de arte: como conteúdo? Como obra? Como produto?

Não assumir para si tal empreendimento é ficar cego aos nossos dias.

ALINE REIS | 25 maio 2021