“Papo de ateliê”

“A obra foi se abrindo para mim…” essa frase que mais parece ser dita numa aula de arte, ou mesmo num “papo de ateliê”, surgiu numa aula de filosofia.

É claro que nesse blog estamos traçando sempre paralelos entre os vários campos de conhecimento, mas para quem está vinculado a alguma aula de acompanhamento de arte nada disse soa estranho.

Uma das características mais arraigadas da arte contemporânea é justamente alcançar outras territorialidades. Hoje coexistem tantas “cozinhas” (da matérica pintura à imaterial lida com as palavras) que quase podemos dizer que existe uma meta-arte.

Somado a isso, utilizamos vários conceitos de outros campos de saber nas discussões acerca da prática artística, o que permite que tais apropriações ficam cada vez mais próximas das camadas interpretativas que lançamos ao decodificar um trabalho de arte.

Eu pego meus inúmeros cadernos cheios de anotações de aulas de filosofia, de arte, de sociologia, de antropologia, de fichamentos e todos eles misturados me envolvem quase centrifugadamente em direção aos mesmos desejos. Quando começa uma coisa e termina outra é quase como um beijo que nunca termina. São duas bocas (ou mais) misturadas e a baba que escorrega revela a própria história.

Um amigo engenheiro me diz certa vez, não me lembro em qual contexto: “Testando as bordas”, diz que é preciso ter prévia explicação do objetivo e do sumário. Aí gamei na frase. Me pareceu que em vez do famoso lema de Hélio Oiticica, “o museu é o mundo”, as palavras (e frases) são um novo habitar. Fruto da tradição do pragmatismo, do Círculo de Viena?! Possível interpretação se aliada à dimensão decolonial de branquitute.

​Para quem está envolvido nos “papos de ateliê” nada disso passa desapercebido.

ALINE REIS | 18 maio 2021