
“Coleciono palavras, títulos, problemas…”
Não só coleciono palavras, títulos, problemas, mas às vezes tensiono pintá-los como num quadro. São paralelismos da arte contemporânea que podem ou não nascer da literatura. Neste caso, adianto que adorei os vários verdes que Proust escreveu no primeiro volume da obra “Em busca do tempo perdido”. Fui ficando fascinada a cada verde que ele colocava no texto.

A minha superfície não foi o papel e sim a tela do meu celular. Coleciono prints de cursos de arte. Ao selecioná-los aqui fui observando as várias tonalidades que as temáticas em torno da arte contemporânea foram assumindo como suas.
Como a arte contemporânea pensa as imagens? Muitos artistas e verdades e obras de arte medíocres nascem como simples mercadoria. Buscar fórmulas e sentidos fechados é o que caracteriza o fascismo em todos os sentidos. Arte, necessidade vital? O Brasil é, entre outras coisas, um projeto estético que procurou articular certa forma muito específica de modernização e modernismo.
A arte como cura e reinvenção de si. Explosões do positivismo ou uma antropologia do ponto de vista da imagem. Corpo-documento. Abrace os acidentes. Se a arte tivesse conseguindo se dissolver na vida… Arte, pensamento, performatividade. Rasgaduras e aparições: como permanecer no dilema.
Como unir temporalidades? É um contexto de batalha semiológica e epistêmica pelo significado, pela definição e pela representação da realidade.Percebe-se que os códigos prévios necessários para compreensão da arte contemporânea não circulam nestes territórios.
Uma leitura possível considerando o uso da palavra por parte dos artistas como fio condutor. Territórios curatoriais. Será que a imagem é o conteúdo da obra? Reavivar e retorcer. Ninguém é maior do que a história!Inversões dialéticas e agentes duplos. Encontros e fruições. Como traduzir pra estrutura de um texto literário as diversas interferências e referências que nos levam à própria concepção do texto?
A espessura do mundo. Arquivos próprios sob parâmetros específicos para criar contra narrativas. O gozo fálico organiza a ordem social, por isso depor a gramática é uma forma de revolução. Como as práticas artísticas são atravessadas por práticas curatoriais com o intuito de tornar público o trabalho artístico?
A ordem foi retroativa no tempo, poderíamos embaralhá-los sem que perdessem a unidade e ao contexto no qual se referem. Quem investiga arte contemporânea, há de se embrenhar por cada tom de verde que a proposição acena, sem contudo perder o rumo da circularidade de nossos pensamentos.
ALINE REIS | 11 maio 2021

