
“Folhas e Afeto”

Ivana Campos, carioca de coração e gaúcha por natureza, se redescobriu durante a pandemia numa relação íntima entre a natureza, seus dons artísticos e a necessidade de mostrar carinho num momento tão duro de isolamento social, em função da pandemia que todos nós enfrentamos.


E assim é como ela se explica: “eu acredito que nos voltamos muito para nós mesmos nesse período de pandemia. Tivemos que nos trancar em casa e começamos a ter que descobrir dentro de nós coisas que tínhamos esquecido”. Formada em 1985 em Artes pela Universidade de Caxias do Sul, sua trajetória foi cheia de curvas até retomar o caminho criativo artístico. Trabalhando no Comércio e depois formada em Direito, já no Rio de Janeiro, Ivana diz que encontrou equilíbrio e paz em juntar coisas simples numa beleza sensorial incrível.

Durante a pandemia, Ivana passou um bom tempo isolada em sua casa na serra. Ela conta que sua inspiração foi uma coisa que brotou, a partir do seu tempo por lá. “Comecei a caminhar pelo mato, pelas ruas e eu vi folhas que antes eu nem reparava. Pra mim as folhas eram só aquelas coisinhas que caíam das árvores. E, então, comecei a reparar no formato, na textura. E um dia eu peguei uma folha dessas na mão, logo me imaginei com uma agulha furando aquilo e vi que daria para escrever coisas, e colocar pra fora o que está nos incomodando. E, fiz isso”, conta Ivana. Com orgulho, ela conseguiu transformar as texturas em algo maior. “A primeira saiu torta, a segunda um pouco melhor e assim foi. Comecei a bordar palavras, todas sempre com bons sentimentos”, diz Ivana.

O importante em todo o processo criativo é acompanhar o contato com a natureza, olhar a perfeição das formas e textura e dar a elas mais um sentido. Isso foi o que Ivana buscou em sua arte: trazer afeto às pessoas. O desejo era expor esses sentimentos que ela gostaria que todo mundo sentisse. As palavras foram saindo, curtas, com ponto palito, mas estavam lá, registradas na natureza e com amor. “E aí eu descobri que as folhas poderiam transmitir o que eu estava sentindo. E percebi que as pessoas começavam a admirar esse trabalho. Elas diziam poxa que lindo, bacana. E me senti ainda mais estimulada”, diz Ivana.

O que chama de processo criativo começa em suas caminhadas, olhando para as folhas e imaginando as palavras que podem estar ali. Colher folhas que já estão no chão é uma ação que só faz quando realmente está com vontade. Não é uma obrigação, é um prazer. Ela já vê as folhas com as palavras escritas mentalmente. Quando senta para bordar, tem que estar bem, em paz. O encontro entre natureza e criatividade gera arte. Aquela folha que está no chão, que alguém vai varrer, ou simplesmente voltar pra terra, pode ser transformada em algo que vai fazer diferença para as pessoas. Para Ivana, as folhas trazem novos significados, uma atitude de amor em carinho.

“Agora já tenho mais que um ponto, às vezes eu levo cinco minutos pra bordar uma folha e às vezes eu levo um dia inteiro. Comecei a bordar desenhos como santas, pombas, motivos mais espiritualizados, pois acho que nessa época de pandemia estamos precisando muito do desse carinho espiritual”, diz.

Com a preocupação de fazer ainda mais que arte, seu objetivo é espalhar carinho, o mesmo que sente em cada folha que colhe. Quando não borda para as pessoas que já conhece, quando é para alguém que vai dar a outras, ela gosta de saber mias sobre a pessoa que vai ganhar sua arte, para que consiga ampliar esse significado. Como ela mesmo ressalta, se é uma pessoa alegre, festeira, borda um tipo de folha, mas se é para alguém que está passando por uma fase difícil, então ela precisa receber coragem, saúde, paz, precisa de fé, precisa de amigo. Receber carinho em forma de arte é o que faz a diferença, diz Ivana.

Outro ponto relevante do trabalho, é que metade do valor que recebe pelas folhas, são doados a uma instituição e caridade sempre ligada ao câncer de mama. A outra metade cobre os custos dos aviamentos e despesas de logística para enviar as produções. “É um trabalho que me dá uma paz de espírito muito grande. E depois as pessoas postam dizendo que ficaram agradecidas pelas folhas que receberam. Já dizia o profeta gentileza gera gentileza”. No fim, objetivo concluído com sucesso.

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