
Por que as estátuas têm pênis pequeno?
Os gregos antigos ficaram famosos por suas esculturas de homens poderosos e ilustres com corpos perfeitos, músculos tensos e marcados. Às vezes, essas figuras apareciam parcialmente cobertas por um pano; porém, em sua maioria, estavam completamente nuas. Para o olho contemporâneo, seus corpos se aproximam do ideal, exceto por um “pequeno” detalhe: seu falo de tamanho abaixo da média.
Hércules
Na maioria dos casos, chega-se a uma desproporcionalidade de tamanho comparando o maciço dos corpos de mármore ao flácido membro, principalmente em caso de deuses conhecidos por sua masculinidade – como Zeus ou Hércules – ou imperadores, homens da elite e grandes atletas de personalidades miticamente grandiosas. Será que os modelos de referência eram usuários de alguma espécie de antigo anabolizante? Ou o frio europeu se juntava com uma timidez enorme na hora de posar para a obra?
Nada disso. Havia um motivo real para essa escolha estética.
Enquanto hoje ser bem dotado é muitas vezes equiparado ao poder e mesmo à boa liderança, o pênis nunca foi um sinal de virilidade ou masculinidade na Grécia Antiga. A potência vinha do intelecto necessário para responsabilizar o homem pela paternidade, prover à linha familiar e sustentar a polis (cidade-estado). Portanto, o pequeno tamanho estava em consonância com os ideais gregos de beleza masculina, um sinal de alta cultura e modelo de civilidade. O pênis grande ou ereto não era considerado desejável porque trazia características animalescas ao homem. Por exemplo, os sátiros lascivos que acompanhavam as celebrações orgiásticas do deus Dioniso, eram retratados com órgãos genitais eretos, às vezes quase tão grandes quanto seus torsos. De acordo com a mitologia, essas criaturas eram parte homem, parte animal, sem quaisquer restrições – uma qualidade vilipendiada pela alta sociedade grega.

POSEIDON X PRÍAPO
Uma estátua masculina nua em si já é uma celebração da masculinidade e, embora os genitais façam parte disso, era mais importante mostrar sua sofisticação e racionalidade – uma das virtudes mais prezadas pelos gregos – através de um corpo masculino ideal com um tamanho de pênis civilizado. Dessa forma, em toda a arte grega antiga, a representação do falo – e seu tamanho variado – era simbólica, porque o pênis funcionava como um “índice de personagem”, ou seja, indicava se um homem era respeitável ou não. O prepúcio também era um referencial simbólico, pois a exposição da glande representava a falta de limites e restrições. Um pênis pequeno e não-circuncidado mantinha a imagem do homem controlado, jovial e de cultura nobre, um indício sintomático de que se permanecia preservado da corrupção inevitável da vida.
Com isso, todos aqueles que se incomodam com seus tamanhos ganharam uma arma para enfrentar suas ansiedades: já podem dizer que são honestos, civilizados e – mesmo falhos ou com medo – divinos!
Leia o artigo completo na segunda edição da Falo Magazine.
FILIPE CHAGAS | crítico e curador de artes | editor FALO MAGAZINE

