Aline Reis | graduação em Comunicação Social – Habilitação Radialismo | pós-graduação em Crítica e Curadoria de Arte pela EAV | pós-graduação em História da Filosofia | mestrado em Filosofia pela Universidade Gama Filho.

“Cada pensamento tem a sua paisagem

​O que significa dizer que “cada pensamento tem a sua paisagem”? Se adotarmos como caminho a ida da filosofia à arte contemporânea, podemos dizer que determinadas formas de pensar produziram um impacto considerável na tradição ocidental e ensejaram variadas paisagens: pintada, esculpida, colada, ausente, não só como uma janela para a alma, dentre outras.

​Se começarmos pelo pensamento de Nietzsche veremos que o niilismo de “hóspede indesejável” passou a perpassar a experiência contemporânea da arte, o que aparece no mofo das frutas em meio a natureza morta, no descascado das paredes da galeria como suporte ao trabalho de arte e uma série de obras que mostram a imaterialidade das coisas do mundo, os vestígios, as precariedades, os restos. 

A obra "a line made by walking" e é um dos primeiros trabalhos de Richard Long. Andou em linha reta até que a marca da sua experiência física com a paisagem/natureza se tornasse visível. 

Entendo que a medida histórica no qual a arte contemporânea emerge diz muito mais sobre os seus modos de ser do que o fato de ser meramente um desdobramento da arte moderna. A história da arte traz também escolhas teóricas, adota discursos e legitima obras e artistas, portanto identificar a paisagem como representação da natureza na pintura e relacioná-la a adoção moderna de perspectiva é um desdobramento possível e remonta à tradição da filosofia cartesiana.

Vejam que pensar sobre a relação entre pensamento e paisagem pode partir de várias outras perspectivas, se quisermos partir do mundo já dado, destituindo os objetos de sua instrumentalidade, utilizando-o como “um plano e um acaso” como disse Richard Long, podemos colocar em jogo a experiência da arte nos limites factuais, históricos e finitos.

E como se tudo não fosse apenas ontologia, podemos vislumbrar uma nova paisagem surgindo na arte contemporânea atrelada à genealogia (o fio condutor também Nietzsche) que trata de pensar os fenômenos históricos na sua relação entre sentido e poder, também de forma material, de subjetivação dos corpos numa perspectiva chamada decolonial.

Aline Reis | Rio de Janeiro, março 2021