Sem título
Esse título não é um não título, ele é uma estratégia que se apresenta para confirmar uma estrutura já legitimada. O artista negocia com tantos critérios que é quase um respiro o seu trabalho ter como título “sem título”. Não é o vazio, nem o nada, nem sequer aspira a ser uma narrativa rasurada, como se as palavras fossem riscadas, logo após serem escritas.
Como a ópera La Bohème que meu pai tanto gostava… “O que sou? Um poeta. Que coisa faço? Escrevo. E como vivo? Vivo”. Existir já resolve uma série de problemas, o mesmo se aplica ao nomear o nosso querido “sem título”, parece que meia dúvida de agonias e horrores já saem de perto. O artista contemporâneo é um ser aterrorizado!
Manipula signos sob um teto pesado da história da arte, cansado dos estereótipos das redes sociais, acuado acuado pelos outros, num mundo que é tudo menos empático, daí construir parcerias, tantas quantas possíveis, sem que a relação senhor-escravo seja pautada. Imagino que ninguém mais aguente relações de mando e obediência.
Um bom encontro entre duas consciências que se respeitam é um mínimo para constituir um diálogo de arte. Uma linha em volta de um grupo que possa perpassar em torno dele divergências teóricas e visuais sem uma luta corporal, já é um alívio! Se o título for também uma prisão como poderemos considerá-lo?
A nomeação é sempre um embate. A cada campo que se entra, seja ele qual for, na academia ou nas instituições, os cerceamentos em torno das palavras refazem caminhos antigos e já trilhados. As cercas ideológicas perpassam todos os muros e cercados minados, daí falar significa sempre versar sobre as mesmas ruas pavimentadas por outros que mandam. Exemplo? Visuais são os artistas contemporâneos, plásticos são as sacolas!
ALINE REIS | 2 abril 2024