A matéria da fotografia é o mundo

Num mundo que não é totalmente seu, de uma libido da bomba e da guerra e ao mesmo tempo da falta de algo que seja fixado, escuto Già nella notte densa de ‘Otello’. Na sequência, ao ver o trabalho de arte de Wlademir Dias Pino, tudo ficou próximo ao momento supremo. A fragmentação da linguagem, a desconstrução, não mais se constitui um lugar para habitar, uma passagem curta.

Até que ponto atingiremos o âmago das discussões de hoje? Há algumas falas que continuam a reverberar, mesmo que veladas. Hoje proponho colocar na prosa, outras palavras de outras artistas, endemicamente na mesma arquitetura do word para geometricamente habitar o mesmo espaço: palavras e palavras na sua significância, porque a linguagem para mim não é apenas meu ganha pão, como as utilizo tanto na significação quanto na desmaterialização nas minhas colagens.

O site do MOMA é um manancial para curar frases e como tenho estudado a história dos currículos, transferências diretas dos americanos, todas as frases que colocamos ficam suspensas. Em qualquer território que pisemos, os pés convergem nos mesmos ideias de mudança da sociedade por vetores que pouco tem com a real motivação para que realmente haja mudanças significativas.

Inclusive na mesma ciranda dos temas da arte fulgura os democratismos americanos que incluem uma pauta de justiça social como forma de segurar avanços na sociedade. As mulheres ainda se mantém em currais ideológicos, quando não, arredias a ocuparem lugares de fala politizados, não querem se indispor com os homens. Se puxo o fio da metafísica, cá estou no suprassumo ideológico, eita mundão.

Uma coisa é certa, enquanto a Bahia deu régua e compasso para alguns, Heidegger pavimentou para mim esses dois séculos. Como a matéria da fotografia é o mundo, o que nele está é fruto de uma construção técnica nos nossos modos de ser.

ALINE REIS | 12 setembro 2023