LIESEL ROSAS ENTREVISTA LUCIA MAMOS-MOREAUX

Liesel Rosas trás a tela da artista LUCIA MAMOS-MOREAUX, no formato de canvas A2, para participar no 8° CIRCUITO ARTE BUZIOS 2023

1- Como vc gosta que te chame artisticamente?
Simplesmente pelo meu nome Lucia Mamos-Moreaux é assim que sou conhecida nesse meio artistico. Eu gosto muito porque os meus filhos levam também o Moreaux. Agora pelo lado da Musica, como compositora, autora e interprete eu prefiro Lucia Mamos, é em homenagem aos meus queridos pais.

2- Seu amor e contato pela arte vc acha que se iniciou como e quando?
Desde sempre. Acho que « talentos » ja vem com a gente. Cada criança nasce com aptidoes e é so desenvolver, claro que si ela tiver a sorte de cair numa familia acolhedora e encontrar bons educadores, ai ela vai florescer. Eu sempre quis ser artista mas me pai queria que eu fosse arquiteta, entao foi o que eu fiz e por sinal duas vezes, no Brasil e na França. Passei dez anos estudando na escola de arquitetura de Versalhes, muito boa por sinal, para poder ter o titulo de arquiteta e exercer a profissao aqui na França. Fiz Mestrado sobre o Oscar Niemeyer. Fui entrevista-lo no seu escritorio em Copacabana, entrevistei, gravei, filmei, fiz fotos e no final ele me ofereceu tres desenhos que os guardo preciosamente. Mas veja, ai um belo dia nao deu mais pra aguentar entao larguei tudo e decidi ser artista.
Eu ja desenhava muito quando eu era criança. Sou atraida pelo belo, pelas cores, pelos sons. Eu ficava horas olhando e observando um quadro, viajando literalmente com ele. Hoje é a mesma coisa, nao mudou nada. Sou curiosa e sempre quis saber de tudo. O tempo vai passando, a gente vai aprendendo, évoluindo, adquirindo mais saber e querendo é mais.
Aos 13 anos comecei pintar telas à oléo, entao meu pai me levou numa loja e compramos tudo o que precisava, inclusive livros. Aprendi à pintar lendo e praticando as liçoes do livro.
Quando eu perdi meus pais, estava na França, eu fiquei muito triste, entao comecei uma série de pasteis em preto e branco para marcar o luto dessa perda. Eu escrevia muito também nessa época. Foi assim que aos poucos as poesias foram se transformando incorporando sons e acabaram ficando musicas. Entao fui aprender a cantar, depois tocar violao, depois instrumentos de percussao e praticando a capoeira aprendi à tocar berimbau… Entrei na SACEM e ai lancei o meu primeiro CD de 10 titulos « O tom da minha vida » ou seja em français « Le Ton de Ma Vie » em 2017. Lancei meu segundo CD « Humanité » « Humanidade » com dez titulos também, sempre com cançoes em français e em portugues do Brasil em 2021. Nos meus Récitais eu canto me acompanhando com o violao e também com outras musicas eu toco o pandeiro, berimbau e Tamborim.
Entao aos poucos, fui largando uma vida e entrando em outra vida. Em 2007 traduzi em français a peça de teatro « A Partilha » do Miguel Falabella. O Miguel nao saia da minha casa quando agente estudava no colegio. Nossa ! Quantas aulas matamos juntos conhecendo e descobrindo de carona o Rio de Janeiro. Em 2009 entrei para o Jazz Festival Versailles, organisava assim os concertos off e participava também junto à varios musicos onde cantava Bossa Nova. Em 2018 lancei « Scènes Ouvertes » em Versalhes, nos bares e nos restaurantes. Foi assim que fui me aperfeiçoando. Acho que estou em acordo com aquilo que sempre quis ser. O que eu gosto mesmo é de cantar, pintar e contemplar.

3- Qdo vc começa seu processo criativo o que te inspira, quais suas provocações para criar? Vc tem um ritual para criar, como ouvir música ou algo assim?
Sim tenho varios rituais : Quando trabalho no atelie, estudo, escolho o tema, fico sozinha por alguns dias, preparo as telas e meto o pau.
Quando faço Performances « Pintura Direta » So sei o que vou pintar quando chego no lugar. Pode ser uma peça de teatro ou uma dança ou ainda um concerto. Eu só tenho que acabar o quadro antes do evento encerrar.
Quando pratico as « Performance Canto/Pintura », eu também não sei o que vou pintar. E incrivel que toda vez sao as montanhas e o mar do Rio que pinto, essas imagens estao gravadas na minha mente. Eu canto e pinto um quadro simultaneamente numa Bossa Nova. O quadro fica pronto em 4 à 5 minutos.
Ser artista é uma maneira de ser. Meu trabalho é essencialmente baseado em minhas reflexoes e sensaçoes sobre o que capto da nossa sociedade. Eu relato o meu pensar, minhas contestaçoes com filosofia e poesia. O mundo é muito cruel, muito desumano, a arte da aquela chance de sair dele.
Em 2011 eu representei a mulher artista da America Latina na UNESCO em Paris, apresentando 36 obras na sala Miro.
Em 2013 apresentei na Prefeitura de Versalhes a pintura de uma india crucificada. Dessa forma eu estava denunciando e apoiando o Cacique Raoni para a preservaçao da floresta e do povo indigena do Brasil. Tem um video no Youtub, Lucia Mamos-Moreaux – Divina India do Xingu.
Em 2016 apresentei um vidéo sobre Olympe de Gouge, autora da declaraçao dos direitos da mulher, na Bibliotheca de Versalhes durante o dia do Patrimonio Europeu com o tema da Mémoria. Esta também no Youtub.
Hoje em 2023, tenho uma obra apresentada na National Art Center Tokyo, seleçao do Salon d’Automne Paris.
4- Vc tem um tema que vc mais se identifique? Quais os suportes que vc usa?
Cenas de vida. A figura humana, a humanidade. Eu utilizo a pintura à oleo sobre tela ou madeira.
5- Vc pratica sua arte diariamente?
Quase diariamente mas alternadamente. Como sou cantora tambem eu preciso de parar de pintar para poder respirar melhor, as tintas mechem com a minha respiraçao.
6- Que mídias vc usa para divulgar seu trabalho?
Facebook e YouTub tem varios vidéos de partes dos concertos ou exposiçoes. Os jornalista et a TV publicam matéria sobre meu trabalho. Tem vários artigos na internet.
7- Fala um pouco como se iniciou a Biennal Versailles?
Tem sempre um grãozinho la no fundo em nossas mentes que um dia semeado ele vai brotar, vai crescer e vai dar frutos. Entao, eu trabalhava num atelie municipal onde dava aulas de pintura e modelage ha um tempão atras. O prefeito da cidade, o senhor Pierre-Louis Doucet, gostava do meu trabalho e me dava carta branca. Eu estava ali no meu mundo. deslumbrada com a arte, aprendendo, ensinando, descobrindo os museus. Durante o Salão de artes da cidade ele me pediu para selecionar as obras dos artistas que iriam participar. Dali em diante, sem saber, eu estava me tornando a artista pintora e a curadora que sou hoje.
Mais tarde encontrei o Philippe Lejeune, artista pintor fundador da Escola de Etampes. Entrei para seu atelier e la fiquei me aperfeiçoando durante sete anos, ficamos amigos. Numa volta de uma viagem do Rio, em janeiro de 2014, fui visita-lo, ele estava muito mal. Para tentar alegra-lo eu disse : vamos fazer uma exposiçao em Versalhes onde senhor sera o convidado de honra ? Ele ficou muito animado, rejuveneceu de dez anos. Eu ja tinha um espaço reservado para fazer uma exposiçao individual em abril. Entao foi facil reunir artistas da mesma corrente artistica, ai “meti bala”. Infelizmente tres dias antes da abertura do salao ele faleceu, marcando assim sua primeira exposiçao postuma. Entaocom a minha filha criamos o site internet, o catalogo, o cartaz e tudo mais. Entao ali nascia em menos de tres meses a Biennale Versaillaise.
8- E por fim fale suas paixões e seus medos.
Minha paixão é sentir os raios de sol tocar meu corpo.
Dificil de falar sobre meus medos, depende muito da circuntancia e do momento.
O medo nos ajuda à escapar dos perigos. Acho que estou ficando filosofa e estou aceitando a vida como ela é. A vida é linda ! O mundo é o que ele é… a arte tem a capacidade de lhes transformar.
