
Parede de cinzas
Dissociar para um passo a frente associar é uma forma de alcançar o próximo assunto, élan que vai levando a outros lugares… A cosmologia criativa vai sendo feita com o passar do processo de trabalho, assim imagino o poetar do poeta quando arrasta em sua rede significativa: palavras, imagens, objetos, geometria. O artista de todas as searas constituiu um léxico próprio.
Talvez a coisa mais difícil seja penetrar no universo do artista que não abre os seus nexos, sejam eles, mundo, imaginário, barsa dos sonhos, outras culturas, para que fique claro que dobra de cotovelo irá aparecer. A curadoria tem sido científica quando apresenta os trabalhos numa hipótese que responde à pergunta, como numa tese, mostrando o corpo com todas as suas articulações.

Lidar com o espirro que jateia tinta para todo campo, longe de constituir o mundo da técnica e o automatismo veloz das leituras heideggerianas, só faz surgir o atordoamento que deve ser sempre sempre o mais importante na captura sensível da brutalidade da arte contemporânea. Num mundo palatável de produtos, um trabalho de arte contemporânea costuma ser mal-recebido, abortado em sua potência de deslumbramento, mesmo que derrame associações fáceis e engessadas interpretações.
Fora a preocupação com o tempo, com as marcas da história (da arte?), das contradições que não alcançam uma certa maturidade no fazer e no dizer do que se está gestando, o artista chega ao máximo do que tem para mostrar e dar numa exposição ou obra e dali só um outro passo, sem um relógio ou uma ordem que esteja visível naquele momento.
A parede de cinzas fica por conta do que se esgota quando realizamos uma exposição, mesmo que tudo que tenha grudado como poeira possa passar desapercebido. Assim, serão os próximos momentos desse blog, metamorfoseados em novas apreensões e decisões. É esperar para ver!
ALINE REIS | 8 agosto 2023
