
Regime de inteligibilidade
Pavimentar um rumo na Arte Contemporânea sem que ele seja previamente dado é possível? No horizonte das discussões de Rancière, em O Mal-estar da Estética, os filósofos não criaram a estética e tampouco reconfiguraram a maneira com a qual a história se desenrolou, mas elaboraram o regime de inteligibilidade no esteio do qual o regime da visibilidade foi pensado, através dos conceitos, das injunções com a ética ecom a política. E mais, ao isolarem como objetos de estudo, fizeram desaparecer ou mesmo “rasgar” o originário da experiência.

Não há dúvida que o mal-estar estaria no fato dos filósofos terem se metido no meio de coisas que nunca puderam compreender por que não estavam no ateliê para vivenciá-las. Até a escolha da palavra regime já é banderosa. Quase todos os autores sempre dialogam de Hegel para cá, Marx, os marxistas e os marxianos, pelo menos no campo da arte, então é estudar!
Escolher entre “terminar” um trabalho naquele momento ou continuar continuar e transformá-lo. Para longe da dicotomia sensível versus inteligível, de mental aceitação cartesiana, vige no fazer decisões que alteram significativamente o caminho da feitura do trabalho de arte.

Fora lidar com a sombra da história da arte, do que já foi feito, do que é inaceitável, do que produz erro mesmo, amadurecendo para seguir em um caminho potente, aliada a uma poética, produzindo um novo lugar para habitar. Não é só pincelada, nem somente cor, mas suporte, forma de exibição, diálogo com antecessores, arredondando, colocando ponta, diagonal, indo em direção à geometria, saindo dela, pegando vestígios da cultura brasileira, pipoca, cadeira de praia, cozinhando.

Se indo em direção ao niilismo europeizado, site especif ou se produzindo diferença na contramão das galerias, tudo é significativo na arte contemporânea e aliás foi sempre assim, nas artes dos séculos passados.
ALINE REIS | 1 agosto 2023
