Enrique Dussel

Um dia desses, veio me buscar o Voltaire no 99, adentrei então no carro da história, melhor dizendo da filosofia da história. Essa pequena piada interna me fez começar a coluna de hoje erguendo as vértebras que sustentam leituras e apreensões que fui vendo se constituir nos últimos trinta anos de leitura entre filosofia e arte.

​Não ache você que é muito tempo e que eu seja muito “sábia”, é apenas um começo. Uma das melhores coisas do passar do tempo é a perspectiva de ver tudo mudar, se organizar em torno de referenciais teóricos que antes não eram legitimados ou se quer existiam, para outros firmamentos que parecem hegemônicos e impossíveis de ultrapassar.

​É preciso dizer como Kant que “a estética é a apreensão de uma forma sensível que não depende de saber algum de especialista e de fruição alguma exclusiva” ou mesmo Schiller, “uma forma de experiência sensível livre das hierarquias que normalmente a estruturam: as do entendimento sobre a sensibilidade, da forma sobre a matéria, do ativo sobre o passivo e finalmente, dos homens (aqui palavra anacrônica, sempre muito esquisito falar nesse século) da cultura refinada sobre os homens de uma natureza tida selvagem.”¹

O palavreado é técnico, mas as discussões no senso comum de hoje seguem pelo menos caminho, então ainda é pertinente tratar. E o que o Dussel tem com isso?Simplesmente um achado, como poderia colocar outros autores que quando a gente se depara faz com que o sentido se dê; unifica leituras, dá um chão as pegadas que você vislumbra nas mais variadas direções.

Fica aqui uma dica, ancora em algum lugar da linguagem (as palavras, lógica) para construir uma narrativa, sabendo de antemão que para a fruição estética e o fazer da arte contemporânea nada disso é necessário, embora não seja descartável, o regime é outro.

¹Retirado do texto Mal-estar na Estética de J. Rancière.

Rebecca Horn
Judy Millar

ALINE REIS | 25 julho 2023