Marinha

Urge um tempo, demandas expressas, deadline. O complemento disso é toda uma série de cursos, palestrar e aulas de especialistas que ensinam como lidar com a ansiedade, com os processos de trabalho… Na arte não é diferente, instrumentaliza-se tudo, doando ao artista fórmulas de sucesso, de exclusividade, de certezas.

Paul Signac e Julio Dupré

​São passeios por uma nova (antiga) circunferência, como nas palavras de Cioran, “no interior do círculo que encerra os seres em uma comunidade de interesses e de esperança, o espírito inimigo das miragens abre caminho do centro à periferia.” A linguagem também pode ser usada com outras intencionalidades para além do que o autor disse, assim como a visualidade do trabalho de arte suporta outras “interpretações”.

​É um tema muito recorrente, inclusive porque o senso comum como conhecimento sobrevoa nossa imaginação e enrola em torno da nossa língua significados já previamente estabelecidos. Todo um mundo de tempos já plasma numa fossa comum que nos engole. Ciorizando as imagens que vejo passar a cada dia entre os artistas que escuto.

​Uma das hipóteses é que diante de total de liberdade de ser ainda há determinadas pedras a serem removidas. Seria a história, um breviário eterno de voltas a si mesmo? Seria uma constituição que nunca poderíamos nos livrar? Seria um anteparo indelével que condiciona tudo? Intransponível? Irresistível? Um oásis permanente para volta de uma terra tão árida?

Herança do pensamento ocidental, a história constitui modos de existir que entrelaçam a alteridade, a “verdade” e o poder, entre tantas outras outros, daí a matéria escolhida pelo artista ser tão significativa para mobilizar discursos e geometrias. Eu busco tais pontas que aparecem para começar textos, curadorias, trabalhos, embora haja artistas que bebam em outras fontes para fazer surgir uma forma, uma interrogação ou uma determinada pincelada que dará sentido ao movimento ou à direção para qual estejam prontos para velejar.

ALINE REIS | 18 julho 2023