

Superfícies não hegemônicas
Problematizando a maneira como Fabio Durão analisa a teoria e pensando “sempre” que ela é uma das formas de “segurar com mãos” uma questão, eu me pergunto: aplicar uma mentalidade na narrativa curatorial é apenas demonstrar estar ciente e up to date com que o que se produz no circuito? Mesmo que este se encontre num posicionamento de invisibilizar qualquer exposição, artista ou curador que não esteja dentro dos seus círculos de amizade prescritos?
O padrão ético-político que conduz a visibilidade no circuito estabelece o que é considerado bom e aceitável. Seria esse o único caminho para fazer uma curadoria? O curador que quer manipular outros signos que não estejam contidos nos eixos principais estaria alienado, tanto das discussões vigentes como destituído de sua própria época? Na “época dos curadores” a organização, execução e força do alinhamento da visualidade com o discurso estaria comprometida?

Se os artistas não mobilizam as temáticas urgentes, se os seus eixos são preenchidos com outras interrogações, uni-los em chaves “atuais” seria a melhor forma de “atualizar” as narrativas? Num mundo no qual “teoricamente” tudo é permitido, qual a liberdade de propor uma leitura outra, desatrelada do paradigma dominante?
Esse chão constituído pela curadoria verifica-se na exposição Superfícies se Aproximam, que está na Sala Ateliê Experiências Contemporâneas, no quinto andar, da Fábrica Bhering, rua Orestes, 28, até dia 20 de maio. A geometria serve de ocasião para mostrar como os conteúdos discutidos e as visualidades propostas pelas três artistas(Adriana Nataloni, Claudia Malaguti e Valeria Campos), que quase se tocam num espaço expositivo que pretende fazer da experiência da arte um acontecimento singular.

As superfícies também trazem como discussão de frente o Antropoceno, a escrita como potência significativa da arte e a alteridade como élan necessário às discussões contidas no circuito.
ALINE REIS | 25 abril 2023
