Superfícies se aproximam¹

​A condição contemporânea possui um “horizonte de aparição” que conecta as artistas ao tempo histórico. Ao nos constituirmos num momento pandêmico, em meio à viabilização da vida mediante a pele virtual dos nossos computadores, compreendemos que tanto a leitura dos textos vinculados ao circuito de arte quanto às reflexões que fazíamos dos trabalhos alimentavam nossas rotas à procura da vida. Tudo isso em um tempo muito inquieto e escorregadio.

​Como somos um grupo de pesquisa em Arte Contemporânea, a todo momento nos perguntávamos de que maneira deveríamos lidar com os acontecimentos. Algo havia sido deslocado, portanto, a procura das artistas por uma linguagem mais potente e própria, outrora navegável nos mares da inovação e da diferença, passou a ser mediatizada por outros abismos que nos rodearam.

Fotos Roberto Bellonia

​Adriana Nataloni teve o espanto diante dos materiais inorgânicos descartados nas ruas e, ao incorporá-los com seus desenhos e pintura, recuperou tanto a potência escultórica quanto operou a fragmentação e a desmaterialização do rosto e da paisagem.

​Os objetos de Claudia Malaguti que outrora precisavam ser fixados, hoje “bambos” e sem nenhum limite (econômico, político, ecológico…) passaram a se constituir em novos limiares de distinções.

​A tríade imagem – grafia – texto de Valeria Campos não só sempre brincou com o caráter narrativo no qual ancora o signo como foi “ocasião” para materializar paisagens. 

​A curadoria reuniu todos esses vestígios históricos de lastro e pertencimento numa só chave interpretativa: a dissociação entre os signos que manipulamos e o “discurso” que queremos efetivamente dizer. São superfícies que se aproximam…

ALINE REIS | 18 abril 2023

¹ Hoje resolvi colocar na coluna o texto curatorial da exposição que abriu dia 15 no meu ateliê Experiências Contemporâneas, com a artista Adriana Nataloni, no quinto andar da Fábrica Bhering. A visitação será até dia 20 de maio. Esperamos todos lá!