
Rochas, faíscas e lascas
Autoria garantida aqui, a fala de Clarice Lispector é significativa, quando diz: “Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados.” Lembrando Saussure, quando afirma que “tudo é ‘matéria’, o que significa que leva em consideração qualquer manifestação linguística (de analfabetos, crianças; antigas, atuais), e não só as dos falantes cultos de um período vagamente definido. Para ele, a correção ‘linguística’ é um valor social, que leva em conta, mas como questão social e submetida a regras de um tipo especial, similares às que governam a etiqueta.” ¹
Com essas duas diretrizes começo hoje minha coluna. Em relação ao título, fiquei pensando nas matérias inorgânicas que a artista Adriana Natoloni tem usado em seus trabalhos de arte, nas faíscas da linguagem que notabilizam o processo de Valeria Campos e nas lascas de memória que pulsam nos objetos de Claudia Malaguti.



Escrever sobre o trabalho das artistas parece sempre uma tarefa hercúlea porque cada “de mão” que você dá, não só retira uma casca de história subjacente quanto mobiliza uma série de outras interpretações que constituem o terreno da hermenêutica curatorial.
Parafraseando Rorty, quando diz que “todas as pessoas que escrevam livros ou críticas não tem os mesmos objetivos ou as mesmas medidas e padrões”, assim são os artistas e seus trabalhos de arte. Há uma singularidade ímpar nos processos poéticos e nas intenções. O artista tem um pensamento de arte quando está criando e quem ‘participa’ das novas camadas que vão sendo depositadas também, como aquele que escolhe as obras para o espaço e quem a frui na experiência de presentificação no espaço expositivo. Outros mares a serem navegados.
ALINE REIS | 11 abril 2023
