Misturas furiosas

​Esse título maravilhoso me foi soprado numa live sobre Bruno Latour e mais parece o título da minha futura exposição. Atualmente faço a curadoria do meu grupo de pesquisa em Arte Contemporânea, o título “Superfícies se aproximam” também incrível, é retirado de um dos livros da artista Valeria Campos.

Somos quatro mulheres no grupo e como mulheres mais velhas nesse circuito altamente hierarquizado (aliás, o que no nosso país não é hierarquizado, colonizado, discriminatório?), temos que ser como a água que perfura de tanta insistência os lugares de arte para fazer surgir nosso potencial e competência técnica.

​Então, essas duas palavras juntas “misturas furiosas” me pareceram traduzir bem o nosso ímpeto de não nos deixar fora das rotas que queremos traçar. Os estereótipos sociais são poderosos. Urge intrinsecamente nossa vontade de estudar, trabalhar e viver de arte e de pensamento. É o que nos conduz a um jogo que só acaba quando acaba. 

​Como fomos prejudicadas ao longo dos séculos! Parece incrível ainda dizer que o espaço é exíguo. Se desenvolver requer espaço, experiências, erros cometidos, liberdade… Por isso, as misturas precisam ser furiosas se querem pular para fora de um trem que interdita o desejo de alguns.

​Muitas são as misturas que podemos fazer, minha última tem sido ler os incorporais estoicos de Anne Coquelin, com um outro grupo de leitura e pesquisa em Arte Contemporânea. Fica aqui minha dica para um ótimo momento de aula on line.

​Outra inserção é a leitura do próprio Latour nas minhas pesquisas tanto na curadoria quanto na pedagogia (estou fazendo uma licenciatura). As discussões do Antropoceno são necessárias e incontornáveis. Para quem ama a teoria e as suas relações intrínsecas como eu, ir de Latour a Sloterdijk, costurar o moderno descosturando-o, é de um sabor ímpar!

​A livre associação do conceito do antropólogo ao nosso ritmo com certeza seria bem aceita, visto que ele estava aberto ao diálogo.

ALINE REIS | 28 março 2023