Sustento

            Quais são as questões que te tocam? O que te constitui? Pensa aí. Antes de avançar aqui no texto. Além dos pensamentos que vão te impulsionando, quais são as ações em arte? Coletar? Apropriar? Para o curador ou quem quer que esteja de fora do processo, as afinidades nunca são óbvias. O piso da arte, o chão, nunca se materializa tão rápido e de maneira lógica. Há de se entender a dinâmica da exposição quando montada, os vestígios no ateliê, a enfermaria, a fratura exposta.

             O olhar de fora e o de dentro (imagem tão recorrente moderna) podem se fundir quando o horizonte contemporâneo se interpôs nos critérios de espectador, futurizando um porvir que é quase sempre político, nos meandros da tradição da filosofia ocidental. A legibilidade pública das falas do artista deve constar também nas letras impressas na parede curatorial, grudadas em adesivos potentes, que quando retirados retiram as cascas das paredes, expondo o pouco lastro dos valores eternos.

(Fotos: Anish Kappor, TANABE CHIKUUNSAI)

            Sustenta-se o mundo histórico. Parece até que minha existência vai se exaurir agora e não conseguirei mais fazer mais nada… Ainda assim o naco de nada ainda se constitui lá porque os desdobramentos assim o mostraram. Um muro que precisamos nos haver, sem dúvida. Niilismo que perpassa o fio da arte contemporânea que pode ser lido em incorporais (Cauquelin) ou na veia em outros autores.

            Se o artista não vislumbrar o quanto da teoria está incauto em seu trabalho, se partir para o processo de trabalho em seu fazer somente, cego aos contornos e entornos, ainda assim aparecerá os materiais e a instrumentalidade como manipula as ferramentas. Esse encontro sempre será proveitoso, mesmo que enviesado, mesmo que parcial, porque leva-o à avançar ainda mais em direção a uma volta, um retorno, não a si mesmo, é chegar mais perto do chão quente da história.

ALINE REIS | 28 fevereiro 2023