Linguagem como campo de interação

​Cada dia fico mais convencida de que para adentrar no campo da Arte Contemporânea é necessário compreender a história da arte e o lastro teórico advindo das decisões artísticas e filosóficas da arte conceitual. Vocês podem pensar o porquê de ter tanta história envolvida, uma das razões diz respeito ao fato de que a categoria história tornou-se um critério dominante do estar no mundo, puxando o fio metafísico de Deus, da liberdade e da epistemologia.

​Aí seria voltar aos desdobramentos kant-hegelianos para explicitar. Se você partir da constatação de que a história é a mola propulsora da verdade e do “entorno” do mundo na e pela tradição, vai perceber os vestígios materiais e espirituais nas nossas deliberações como artistas, ali no ateliê, diante do trabalho de arte.

Muitos são os artistas que não “querem estudar”, seja lá o que for, ainda mais quando adotam o paradigma dominante Decolonial. Rechaçar o velho mundo, o elitismo e o capitalismo envolvidos, também faz com que o corpo político do artista esteja de certa forma voltado ao pensamento nietzscheano e aos caminhos europeizados.

Foto do Duchamp e Ives Klein

​Não há como fugir? Entre outras perguntas, pode apenas indicar que a linguagem é um campo de interação. Costuma-se também dizer que tudo já foi feito, sim e não, porque ainda estamos presos aos modelos e às formas de fazer arte no Ocidente. Pensar para fora do modelo só se for trazer um outro, embora iremos guardar os elementos dele como interlocução. Isso acontece com a invenção dos produtos que estão atrelados ao modelo no qual analogamente foram “descobertos”, a exemplo do vibrador.

Deslocar-se de seu tempo é difícil, muitos filósofos e artistas homens manipularam mulheres em seus trabalhos de arte como matéria, foto e pintura sem se dar conta de que ali havia machismo estrutural e invisibilidade.

ALINE REIS | 14 fevereiro 2023