Esfriando o tempo histórico

Dando um tempo no que está em voga: costuras, apropriações, inferências ou aproximações com ideias que tangenciam o hoje, podemos pensar um pouco que tal instrumental nos serve como instrumentos para medir e mediar o real. A forma como operamos o distanciamento por si só já nos diz muita coisa como sentimos o tempo histórico.

Foto: Maria Abravomic

            Recentemente escrevi um texto que o núcleo duro era o entendimento. Recebi críticas pela direção acadêmica (sem dúvida) que não deixa a arte ser pura fruição e um certo descompromisso com a intelectualidade das escolhas estéticas. Acompanha tangencialmente tal postura o senso comum, o coach, um certo mito de que a arte é muito individual e cada um tem a sua verdade. Nada mais ideológico!

Não podemos nos furtar a compreender que entre a complexidade histórica e o protagonismo dos artistas no processo de moldar o fazer da arte contemporânea salta aos olhos o fato de que os “motivos” e os interesses foram sendo “achados” em todos os lugares, principalmente, em lugares de não-arte como assinalou Allan Kaprow. Isso significa dizer que definitivamente algo que deveria estar fora entrou no circuito da arte.

Foto: Maria Abravomic

            O excedente vindo da vida é um deles. Se interpenetram arte e vida? Para o estonteante Kaprow não, elas não se misturam, visto que a identidade delas é incerta. Um outro marco regulatório do discurso é onde ancoram argumentos e qual artista usamos para endossar teses. Não cabe dúvida aqui minha filiação. Por mais que seja “antiga”, ainda é um caldo que escorre no suculento lábio de vários artistas na construção de seus trabalhos de arte.

Outra tendência que vejo nos artistas é dissociação entre palavra e visualidade, deslocando o “hoje”, a “ordem”, os signos. Uma das finalidades é justamente enviesar o entendimento e com isso, desmobilizar a experiência que temos do trabalho como uma primeira apreensão.

ALINE REIS | 24 janeiro 2023