Campos de interação

Quando pensamos numa fusão de horizontes, o que aparece em nosso campo de visão? Contemporaneamente, hibridismos, junções e apropriações surgem em nosso território imagético, não só canibalizando culturas e grupos sociais como transformando-os em outras visualidades e narrativas.

Olafur Eliasson

​Vários são os campos de interação existentes, portanto muito mais do que avivar um movimento que tenha ficado no passado, ou mesmo recortar, reordenar ou assumir velhas dicotomias como natureza-cultura, a condição daarte contemporânea parece apontar para numa direção cada vez mais ímpar. 

​Se na pintura, o artista faz surgir paisagens na abstração, as aparições que ele manipula costumam “deslocar” o ritmo da construção movendo muito mais rápido do que os discursos proferidos. Assim, muito mais do que inspiração e concreção, o manuseio do tempo da arte redimensiona o fazer da arte. 

A arte contemporânea não se furta a discutir qualquer questão e o seu manuseio, encontra nas dobras da história da arte: as discussões estéticas. A ambiência contemporânea embaralha as representações e as narrativas construindo um outro lugar concernente ao corpo, ao espaço e ao tempo. Tatear novos formatos perseguindo o quanto de diverso constitui a experiência do nosso tempo ainda é o movimento mais “sólido”. Escorregar nas narrativas prontas da tradição e ao mesmo tempo não aderir as mitologias, se faz necessário.

Olafur Eliasson

A construção da paisagem enseja ideias e nos faz pensar, como quis Balzac, assim o artista contemporâneo lida constantemente com o esgotamento das possibilidades de projetar algo novo, porque se encontra estagnado num tempo lodoso. Chafurdado num tempo niilista, sem que nada o faça sair do tedioso confronto consigo mesmo e com os desdobramentos da história da arte, ainda pretende criar.

Olafur Eliasson

Os trabalhos de Olafur Eliasson são significativos dessa visualidade na qual interagem vários campos, sem, contudo, produzir um novo início possível. É claro que ele faz isso intencionalmente.

ALINE REIS | 17 janeiro 2023