
Ausências e Emergências
A sociologia das ausências e a sociologia das emergências são dois instrumentos úteis à cartografia da linha abissal. Ainda continuando a falar sobre o trabalho de Boaventura Santos, sabemos que a linha abissal é criada e determinada pelo capitalismo, pelo colonialismo e pelo patriarcado, definindo o que é gente do que não é gente.

A sociologia das ausências busca o que falta ao Sul, revelando o pluralismo interno da ciência social moderna, desmontando as monoculturas eurocêntricas, reconhecendo e dialogando com os saberes em seu contexto de transformação e luta, levando em consideração outras formas existentes no Sul que escapam à dicotomia do Norte\Sul. Portanto, “a tarefa da sociologia das ausências é produzir um diagnóstico radical das relações sociais capitalistas, coloniais e patriarcais, enquanto a sociologia das emergências visa converter a paisagem de supressão que surge a partir desse diagnóstico num vasto campo de experiência social intensa, rica e inovadora.” ¹
A sociologia das emergências lida com a valorização simbólica, analítica e política de formas de ser e de saberes. Mas, há movimentos que podem mascarar a dominação moderna na intenção de aplacar as exclusões, Boaventura cita três tipos dessas emergências, são elas: as ruínas-sementes, apropriações contra hegemônicas e zonas libertadas.

A ecologia dos saberes deve levar em consideração o que é necessário para que o conhecimento não só postule a metodologia da sociologia das emergências, mas ausculte a comunidade estudada e suas ações políticas, quer seja nos movimentos sociais, no feminismo da América Latina ou mesmo no movimento indígena, identificando o contexto das reivindicações dos grupos sociais envolvidos e a forma como traduzem seus anseios em conhecimento. A tradução precisa ser intracultural e interpolítica como forma de salvaguardar a alteridade de ambos os campos envolvidos.
Os desdobramentos dessas questões são essenciais na arte contemporânea que tem como paradigma dominante: o pensamento Decolonial.
¹ SANTOS, Boaventura de Souza. O Fim do império cognitivo. Belo Horizonte: Autêntica, 2020, p.54.
ALINE REIS | 13 dezembro 2022

